quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Gabrielli explica a compra de Pasadena e defende estratégia do negócio

Em fevereiro deste ano, o jornal Petroleir@s (Sindicato Unificado dos Petroleiros de SP) entrevistou com exclusividade o ex-presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli (edição 891). Por falta de espaço, algumas questões abordadas por Gabrielli não foram publicadas na versão impressa, uma delas dizia respeito à compra da refinaria de Pasadena, e que se tornou um dos argumentos para o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Pela importância que o tema novamente ganhou, reproduzimos a resposta do ex-executivo da Petrobrás, que ajuda a esclarecer as motivações econômicas e estratégicas que envolveram a decisão de comprar a refinaria. Confira a seguir a entrevista concedida a Norian Segatto.


Pergunta - Quem é leigo e lê as notícias sobre a Refinaria de Pasadena fica sem saber o que pensar de tantas informações desencontradas. Qual é o seu ponto de vista sobre a compra da refinaria, foi um mau negócio para a Petrobrás?

José Sérgio Gabrielli - Primeiro é preciso saber porque a Petrobrás comprou a refinaria nos Estados Unidos. Essa estratégia foi definida em 1997, naquele ano havia a perspectiva de não crescer o consumo de gasolina e diesel no país, de estagnação do consumo de derivados. Também era previsão, em 1997, que a produção de petróleo Marlim ia crescer. Se vai crescer a produção de petróleo e não vai crescer o consumo, não tem sentido crescer a refinaria no Brasil e sim buscar refino lá fora. Essa era a estratégia implementada pela Petrobrás até 2005. Em 2005, depois de ver várias refinarias, encontramos a de Pasadena, que estava relativamente barata, localizada no centro do refino norte americano, no Texas, que possui capacidade de refino de três milhões de barris, mais do que o Brasil todo refina; estava localizado na boca de um oleoduto de extraordinária capacidade para levar petróleo do Golfo do México a Nova Iorque, ou seja estava em um lugar logisticamente muito adequado.

A refinaria foi comprada por 7.400 dólares o barril, incluindo a refinaria. Como a capacidade de produção era de 100 mil barris, a Petrobrás comprou 50% por 380 milhões de dólares. Em 2006 ocorreram no mundo 11 grandes compras de refinarias, cinco delas nos Estados Unidos, a refinaria mais barata comprada nesse período foi por 3.400 dólares por barril, a mais cara, 19.500 dólares por barril, a média, 9.300 dólares, ou seja, a Petrobrás comprou abaixo da média. Por aí não pode dizer que teve prejuízo.
“O prejuízo vem de um parecer feito pelo ministro José Jorge, do TCU, que foi ministro de Minas e Energia de Fernando Henrique Cardoso, foi presidente do PFL, foi candidato a vice-presidente de Alckmin [Geraldo]. Ele desconsiderou o parecer dos técnicos do TCU... esse parecer é politicamente motivado, não é tecnicamente justificado” 
Uma segunda lógica. Quanto se esperava ganhar com a refinaria? No Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica, a Petrobrás projetava uma margem conservadora de 2006 até 2014. Se comparar essa projeção de margem operacional, com o que efetivamente ocorreu, a refinaria gerou 760 milhões de dólares a mais do que a Petrobrás esperava. De onde vem o prejuízo então?

O prejuízo vem de um parecer feito pelo ministro José Jorge, do TCU, que foi ministro de Minas e Energia de Fernando Henrique Cardoso, foi presidente do PFL, foi candidato a vice-presidente de Alckmin [Geraldo]. Ele desconsiderou o parecer dos técnicos do TCU, que por três meses ficaram dentro da Petrobrás  e atestaram que não teve erro no cálculo do preço da refinaria. Ele desconsiderou uma segunda auditoria, que também chegou à conclusão que não teve problemas, pegou um assessor de sua confiança que em 30 dias, sem ter ido uma vez à Petrobrás, cometeu vários erros de interpretação e erros técnicos.

O principal problema é ele faz um conceito de prejuízo pelo que foi pago pela refinaria e abate de uma das 27 planilhas feita por uma consultoria contratada pela Petrobrás. Por esse cálculo a refinaria deveria custar 1.860 dólares por barril, não existia isso em lugar algum, a mais barata foi 3.400. Consequentemente, o conceito de prejuízo que está nesse parecer é politicamente motivado, não é tecnicamente justificado.    
 
Outro conceito de prejuízo é o olhando para frente. Em dezembro de 2012, a Petrobrás levantou o que foi investido na refinaria, calculou o que ela poderia dar de margem no futuro, com as taxas de juros de 2012, projetou no futuro e identificou um prejuízo de 530 milhões de reais. Esse prejuízo foi lançado no resultado da Petrobrás, não tem nada a ver com o preço de compra.

Em 2013 e 2014 aconteceu um fenômeno muito importante nos Estados Unidos, a produção do gás de xisto e o dateoil, que é o petróleo de reservatórios fechados, geraram uma enorme disponibilidade de petróleo leve, barato e disponível, particularmente no Texas, através do campo de Eagle 4. Isso permite que a refinaria de Pasadena seja altamente lucrativa. Então, nos últimos dois anos a refinaria foi lucrativa. Onde está o prejuízo? É contabilidade política e não técnica.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Tragédia de Mariana é espelho do Brasil



Um mar de lama avança sobre inocentes, vítimas de um sistema de exploração predatório. Os responsáveis por esse mar de lama permanecem impunes e dá-se a impressão de que os responsáveis acabam sendo as vítimas.

Em 2007, o site do PSDB exaltava a privatização da Vale com o argumento de que a empresa passou de um lucro líquido de R$ 1,3 bilhão para R$ 13,4 bilhões. Só não explicou para os bolsos de quem foi esse lucro (http://www.psdb.org.br/reestatizacao-da-vale-o-pt-na-contramao-da-historia/). É o mesmo que pretendem fazer com a Petrobrás.

A Vale, segunda maior mineradora privada, em parceria com a BHP-Billiton, maior do mundo, não foram capazes de instalar um sistema mínimo que garantisse a segurança. Por que? Arrisco um palpite: busca de lucro a qualquer preço (inclui-se, aí, mortes) e falta de fiscalização competente. Essa tragédia já estava descrita há mais de dois anos em relatórios que apontavam problemas estruturais na barragem.

Nesse mar de lama mineiro/brasileiro aviões plenos de coca passam despercebidos enquanto ladrões de biscoito vão para a cadeia; "parece que ouvi dizer que alguém parecido com uma cunhada de um tesoureiro sacou dinheiro em um caixa eletrônico" é motivo de prisão, enquanto assinatura com firma reconhecida e digitais de esposa de político com conta na Suíça não fazem sequer cócegas em quem se diz zelar pela lei e estar acima dos conflitos humanos.


Não há lava jato que lave a lama de Mariana. 

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Ato dia 3 marca primeira grande atividade nacional da Frente Brasil Popular

foto Roberto Parizotti

Manifestação deste sábado tem como bandeiras a defesa da democracia, da Petrobrás e contra o ajuste fiscal do governo



Durante a coletiva de imprensa realizada no início da tarde no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, representantes da Frente Brasil Popular explicaram as bandeiras de luta e a convocação do ato que ocorre dias 2 e 3 em mais de 30 cidades pelo país.
Nesta sexta, dia 2, os atos ocorrem no Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Goiás e Sergipe. No sábado, as mobilizações acontecem nos estados da Bahia, Ceará, Minas Gerais, Rondônia, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Paraíba, Piauí, DF, Mato Grosso, Santa Catarina e São Paulo.
Na capital paulista, o ato tem início às 14h em frente ao Edifício da Petrobrás, na Av. Paulista, 901. João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST, explicou que os movimentos sociais e sindicais têm tradição de fazer atos durante a semana, mas que irão testar a organização em um sábado pelo simbolismo da data. "No dia 3 de outubro a Petrobrás completa 62 anos e a defesa da empresa é uma das bandeiras centrais da manifestação".
O presidente da CUT-SP, Douglas Izzo, informou que a data e o caráter do ato foram definidos pelas entidades que compõem a Frente Brasil Popular, criada dia 5 de setembro, e que reúne cerca de 60 entidades sindicais e do movimento social e popular. "Vamos às ruas de todo o país lutar pela defesa da democracia, da Petrobrás e contra o ajuste fiscal do governo. A manifestação se concentrará na Avenida Paulista, seguirá pela rua Brigadeiro Luiz Antonio até o Largo São Francisco e terminará na Praça da Sé, tradicional ponto de manifestações populares", informou Douglas Izzo.  
Além de São Paulo, o ato acontece em outras oito cidades do Estado (Campinas, Sorocaba, Itapeva, Ribeirão Preto, São José dos Campos, Bauru, Presidente Prudente e Araçatuba).
A coordenadora do Sindipetro Unificado e representante da FUP na coletiva, Cibele Vieira, explicou a importância da defesa da Petrobrás e das riquezas do pré-sal. "Com o pré-sal o Brasil passará de décimo primeiro para quinto maior produtor de petróleo do mundo é por isso que a Petrobrás está sendo tão atacada. A greve dos petroleiros em defesa da empresa está definida e irá ocorrer a qualquer momento".
Questionados sobre o apoio ao governo Dilma, ao mesmo tempo que criticam as políticas econômicas, Raimundo Bonfim, da Central dos Movimentos Populares, esclareceu que não existe dicotomia. "Somos firmes na defesa da democracia e contra as tentativas de golpe por parte da direita, mas temos claro que questionamos o ajuste fiscal do governo, essas duas posições não são excludentes".
O presidente da CUT São Paulo e dirigente da Apeoesp (Sindicato dos Professores) aproveitou para criticar a proposta do governador Geraldo Alckmin de acabar com 30% das salas de aula no Estado, promovendo uma reforma "que nada tem de pedagógico, poderá aumentar a violência nas salas de aulas e irá prejudicar milhares de famílias. Contra essa proposta do Estado estamos organizando um ato no dia 29 de outubro".

A mesa da coletiva foi composta por Douglas Izzo (CUT-SP), Raimundo Bonfim (CMP), Cibele Vieira (FUP), João Paulo Rodrigues (MST) e Carina Vital, presidente da UNE, que reforçou a necessidade de luta pela democracia e pelo pré-sal como forma de garantir o financiamento das políticas educacionais.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Frente Brasil Popular, a defesa da Petrobrás e os interesses internacionais em disputaP

Neste 3 de outubro acontece a primeira grande atividade de rua da Frente Brasil Popular, que congrega entidades dos movimentos sociais, populares e sindicais. A FBP foi criada no dia 5 de setembro durante a Conferência Nacional Popular realizada em Belo Horizonte. Os atos deste sábado, que ocorrem em várias cidades do país, irão se posicionar em defesa da democracia, da Petrobrás e contra o ajuste fiscal proposto pelo governo. Em São Paulo, a concentração ocorre a partir das 14h em frente ao prédio da Petrobrás, na avenida Paulista.

A data escolhida não é aleatória. Em 3 de outubro, a maior companhia brasileira completa 62 anos de uma história que se confunde com a do país.

O petróleo sempre foi alvo de disputas. No Brasil, mesmo antes da criação da Petrobrás, a busca pelo chamado ouro negro já atiçava ânimos dos mais variados matizes. Em 1941, o nacionalista escritor Monteiro Lobato chegou a ser preso por escrever cartas ao presidente da República, Getúlio Vargas, demonstrando sua indignação pela política subserviente aos interesses estrangeiros na questão do petróleo. Na luta popular que se travou pela criação da Petrobrás, alguns pagaram seu idealismo com a vida, como o ensacador da doca de Santos, Deoclécio Santana, morto em choque com a polícia em 1949.

Frente à mobilização popular na campanha O petróleo é nosso, em 1951 Vargas encaminhou para o Congresso projeto de lei propondo a criação da Petróleo Brasileiro S.A.  Em outubro de 1953, finalmente foi sancionada a lei 2004, que deu origem à Petrobrás.

A empresa nasceu e cresceu sob a égide dessas disputas. Getúlio a cita em sua carta testamento: "Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma". Getúlio se suicidou, mas a empresa fundada em seu governo continuou a prosperar e ser o epicentro de interesses e crises. Um dos últimos atos do ex-presidente João Goulart, antes do golpe militar (1964), foi a encampação das refinarias privadas no país: a União S.A. (atual Recap, em Mauá), a Copam (atual Reman, em Manaus), a Ipiranga (RS) e a de Manguinhos (RJ). Logo após o golpe, o ditador general Castelo Branco reprivatizou as refinarias, demitiu centenas de trabalhadores e fechou sindicatos, como o dos petroleiros de Mauá (hoje Sindipetro Unificado de São Paulo).

Crise política
Que ninguém se engane, a atual crise econômica por que passa a Petrobrás tem na política a sua gênese. O mau desempenho do atual governo brasileiro se entrelaça a um emaranhado de conspirações internacionais dignas dos mais inventivos filmes de 007. Nesse enredo atuam os Estados Unidos, China, Brics, Oriente Médio, PSDB, conflitos bélicos e disputa por posições hegemônicas no tabuleiro internacional.

Todos conhecem importância estratégica do petróleo. Combustível responsável por 93% do transporte mundial, está presente em mais de três mil produtos. Derivados do petróleo entram na fabricação de remédios, componentes eletrônicos, lentes, fibras sintéticas, detergentes, câmeras fotográficas, cosméticos, tintas, lubrificantes, pneus, fertilizantes agrícolas, asfalto, móveis, xampus, pasta de dente, telefones celulares, canetas, componentes de automóveis entre muitos outros. Em seu nome travam-se guerras, atacam governos e promovem massacres de populações.

Geopolítica mundial
Relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), sediada em Paris, aponta os EUA como os maiores consumidores de petróleo do planeta. Dos cerca de 90 milhões de barris diários consumidos no mundo em 2013, 18,5 milhões (19,8%) foram para abastecer o mercado norte-americano; com uma população quatro vezes maior do que a estadunidense, a China vem em segundo lugar, com 11,7%; o Brasil é o sexto da lista, com o consumo de 3,1 milhões de barris\dia.

Para suprir sua crescente necessidade de petróleo, desde o final dos anos 50 os EUA priorizaram o controle geopolítico do Oriente Médio. As duas intervenções militares no Iraque (1991 e 2003) são exemplos dessa política.

A partir do início do século XXI, no entanto, outros (f)atores passaram a ter relevância. O avanço tecnológico permitiu aos Estados Unidos extrair petróleo de xisto por meio de um procedimento conhecido como fracking, o que o tornou auto suficiente e exportador da riqueza. Por outro lado, sua hegemonia mundial começou a ser ameaçada pelo crescimento da China e sua aliança com os demais Brics (Brasil, Rússia, Índia e África do Sul). O terceiro elemento foi a crise financeira deflagrada em 2008, cujo epicentro foi Wall Street. Essa combinação explosiva alterou o cenário mundial, com fortes implicações para o Brasil.

O jornalista e sociólogo Ignacio Ramonet, diretor do jornal Le Monde Diplomatique, resume assim o atual impasse estadunidense: "A Casa Branca tem claro que não pode realizar simultaneamente duas grandes guerras [Oriente Médio e China). Por esta razão Obama retirou a quase totalidade das tropas norte-americanas do Iraque e Afeganistão".
Como resposta ao crescimento da produção dos EUA, a Arábia Saudita passou a acelerar sua produção de petróleo, fazendo o preço do barril despencar de mais de 120 dólares, em 2013, para cerca de US$ 50 no final de 2014. Ao custo de extração de US$ 40, o petróleo de xisto torna-se inviável economicamente e a produção dos Estados Unidos começa a declinar, apesar de ser atualmente o maior produtor mundial.
A queda do preço do barril do petróleo afetou todas as companhias petrolíferas no mundo e a Petrobrás não foi exceção. Reside aí, segundo especialistas, a raiz dos problemas financeiros atuais da empresa.  

O Brasil e a Petrobrás
Plataforma P-36: 11 mortos
No final do governo Fernando Henrique, em 2002, a Petrobrás era uma companhia decadente, com menos de 35 mil funcionários, um histórico recente de acidentes (como o afundamento da Plataforma P-36, que causou a morte de 11 pessoas) e com o mais baixo valor da sua história: US$ 15 bilhões. O governo seguinte recuperou a empresa, a transformou em uma gigante internacional, com mais de 85 mil empregados próprios, responsável por 13% do PIB brasileiro.

Em 2008, após investir mais de R$ 200 milhões em pesquisas, a companhia descobriu as reservas de pré-sal, um imenso mar de petróleo de altíssima qualidade, que pode tornar o país um dos cinco maiores produtores do mundo. Para ter uma ideia, nos 60 anos existência da Petrobrás, as reservas de petróleo acumularam 14,2 bilhões de barris; apenas no campo de Libra, do pré-sal, é estimada uma reserva de 15 bilhões e as descobertas já feitas nos demais campos elevam para 60 bilhões de barris o potencial do pré-sal. Ao preço atual de US$ 50 o barril, o que já foi descoberto representa algo em torno de 3 trilhões de dólares.

Junto com a descoberta do pré-sal, o Estado brasileiro promoveu, em 2010, a mudança da legislação, estabelecendo a Lei de Partilha e concedendo à Petrobrás a primazia da exploração dos campos do pré-sal. Ao anúncio, o governo estadunidense e suas companhias de petróleo ficaram com o pelo mais eriçado que gato encurralado.

Seguiu-se uma série de iniciativas para contingenciar (ou destruir) o poderio internacional que a descoberta e sua posse pelo governo brasileiro poderiam trazer, como demonstram diversos telegramas trocados entre personalidades brasileiras e estrangeiras publicados pelo Wikileaks. Carla Lacerda, diretora da Exxon-Mobil, se ressentia de que o controle da Petrobrás pudesse prejudicar fornecedores norte-americanos. Patrícia Padral, diretora da Chevron no Brasil, foi além: “A estratégia das petroleiras para barrar o novo marco regulatório do pré-sal é fazer um forte lobby no Senado por meio do IBP, da Onip e da Fiesp”.

Como resposta às preocupações da Chevron, o então candidato à Presidência da República, José Serra (PSDB) enviou, segundo o Wikileaks, uma mensagem a Padral: “Deixa esses caras (do PT) fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer e aí nós vamos mostrar que o modelo antigo funcionava... E nós mudaremos de volta”, teria dito o agora senador, que cinco anos depois cumpre seu compromisso com a multinacional ao apresentar o Projeto de Lei do Senado (PLS) 131, que tira a Petrobrás como operadora única da exploração do pré-sal.

Outros dois projetos em tramitação na Câmara Federal, o PL 4973/13, de Raul Henry (PMDB-PE) e o PL 600/15, de Jutahy Magalhães (PSDB-BA), atacam diretamente a Lei de Partilha e propõem a volta ao modelo de concessão, menina dos olhos das multinacionais.

Os ataques não param por aí. Em maio de 2013, o vice presidente dos EUA, Joe Biden, durante visita ao Brasil, tentou fazer com que a presidente Dilma se comprometesse em rever a Lei de Partilha. Pouco depois veio a público que o governo brasileiro e a Petrobrás eram espionados pelos Estados Unidos; concomitantemente, começou uma série de protestos para acuar a presidente e seu governo.

PricewaterhouseCoopers (PWC), que, no final de 2014, recolheu os HDs de mais de três mil computadores que continham informações estratégicas sobre os campos de pré-sal entre outros dados sigilosos da companhia.

Para o estrategista norte-americano William Engdahl, "a razão para Washington querer a saída de Rousseff é clara. Ela é uma das cinco cabeças do Brics, que assinaram a formação do Banco de Desenvolvimento Brics, com reservas de US$ 200 bilhões; ela também apoia a criação uma nova moeda internacional para complementar e, eventualmente, substituir o dólar". 


Não é o fim da corrupção, a melhoria das contas públicas ou a queda da inflação que movem políticos e empresários conservadores e parte da mídia brasileira na arquitetura da queda do governo. Há uma disputa mundial em curso e o pré-sal é peça importante desse tabuleiro. É com essa compreensão que a Frente Brasil Popular conclama a população a defender a Petrobrás e a soberania energética da nação.  

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Protesto de taxistas em São Paulo
















Taxistas se concentram em frente à Câmara Municipal de São Paulo (9/set) para protestar contra o serviço Urbe.


Acho engraçado ver pessoas e setores que endeusam o livre mercado correrem para pedir a intervenção do Estado assim que surge um tubarão mais faminto de lucro.


sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Seminário Nacional Energia, Educação e Indústria aponta defesa da Petrobrás

Mais de 150 ativistas de 31 entidades sindicais e sociais, abrangendo 18 Estados, estiveram reunidos em São Paulo nos dias 18 e 19 para participar do Seminário Nacional Energia, Educação e Indústria no Brasil, organizado pela Plataforma Operária e Camponesa.
Diversos dirigentes do Sindipetro Unificado e de outros sindicatos ligados à FUP participaram do Seminário.
O primeiro dia foi destinado a análises da conjuntura nacional no setor energético. Na mesa de abertura, o integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Gilberto Cervinski, afirmou que o principal objetivo do Seminário era fazer um estudo detalhado do modelo energético atual para orientar os próximos passos das organizações populares para combater as tentativas de privatização do setor. Para Cervinski, o capital internacional pretende aplicar na Petrobrás a mesma política realizada com o setor elétrico na gestão de FHC. “O futuro neoliberal do petróleo é a atualidade do setor elétrico brasileiro, que é um centro de especulação muito parecido com um paraíso fiscal”, comparou.
Para a diretora do Sindicato dos Urbanitários do DF, Fabíola Antezana, o setor elétrico é refém do modelo privatizado. “Não adianta a Eletrobras vender energia a R$ 33 por MW/h, se as empresas estão vendendo a R$ 284 por MW/h. No final, o prejuízo é repassado para o consumidor residencial”, explicou.
“O panorama histórico da privatização do setor elétrico e suas consequências tem muitas semelhanças com o momento atual vivido pela Petrobrás e seu plano de desinvestimento”, destacou o diretor do Unificado Marcelo Garlipp.

Perdas para a Educação
Em sua exposição, o coordenador da FUP, José Maria Rangel, destacou a importância da lei da partilha e os prejuízos que o Projeto de Lei do Senado – PLS 131, do senador José Serra pode causar ao país.
O Projeto, que pretende acabar com a obrigatoriedade de participação da Petrobrás como operadora única do pré-sal, pode inviabilizar o financiamento do Plano Nacional de Educação (PNE). A atual lei de partilha assegura a destinação de 50% do montante do Fundo Soberano e a totalidade dos royalties do pré-sal para as áreas de Saúde e Educação. É uma montanha de dinheiro que Serra quer reverter para mais lucro privado.
“A gente só viabiliza o plano explorando o pré-sal pela Petrobrás. Um dos seus pilares é o financiamento, que está alicerçado no pré-sal. Por isso precisamos unir forças para combater o projeto de Serra”, afirmou Zé Maria.
Se dirigindo aos professores, o coordenador da FUP salientou a importância do engajamento do professorado. “Vocês são fundamentais nesse debate da regulamentação da lei. Todos nós somos importantes, mas vocês podem articular um estudante, um professor e um funcionário administrativo em cada canto deste país. A educação pode ser a água que vai mover esse moinho”, comentou.

Atos unitários

Ao final do Seminário, as entidades definiram a realização de novas ações, com atos unitários em Brasília no dia 3 de outubro, aniversário da Petrobrás, e outro na metade de outubro, com data a ser definida (15 ou 16). Também se definiu a criação de uma identidade visual para a campanha e materiais de propaganda, como bonés, camisetas e adesivos.
“Neste momento delicado que o país atravessa é fundamental que haja a organização da classe trabalhadora. Temos que pensar juntos em estratégias que garantam o fortalecimento da nossa luta, envolvendo amplos setores populares da sociedade, para combater as tentativas de privatização”, afirmou a coordenadora do Unificado, Cibele Vieira.
Coube à professora Beatriz Cerqueira, presidente da CUT-MG e a João Antônio de Moraes, ex-coordenador da FUP e diretor do Unificado o encerramento do Seminário. “Na luta pela criação da Petrobrás havia um Centro de Estudo do Petróleo em cada cidade do país e a campanha durou sete anos. Temos de expandir esses debate para toda a sociedade, porque ninguém defende o que não conhece”, afirmou Moraes, destacando a importância da unidade dos movimentos na luta pela soberania energética nacional.

Com informações MAB 
Colaborou Alessandra Campos

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Estudo mostra evolução da economia brasileira em 20 anos

De técnico de futebol e economista todo brasileiro acha que tem um pouco. E, ultimamente, de cientista político. Todos, direita, esquerda, e os "nemseiqueestoufazendoaqui" se metem a dar opinião sobre a convocação do excrete canarinho, sobre a inflação e os bastidores do poder, entre outros pitacos muitas vezes sem qualquer base.

Mas quando se fala em números da economia brasileira só há uma fórmula confiável: avaliar a evolução dos números em sua série histórica. Essa foi a proposta do Centro de Altos Estudos Brasil Século XXI com a publicação do caderno “Vinte anos de economia brasileira – 1995/2014”, assinado pelos pesquisadores Gerson Gomes Carlos Antônio Silva da Cruz

O CAEBS é uma sociedade sem fins lucrativos fundada em outubro de 2013 e tem entre seus objetivos "Aprofundar a caracterização e compreensão dos problemas estruturais, potencialidades e opções estratégicas de desenvolvimento do Brasil, incluindo sua inserção econômica e geopolítica internacional e suas relações com a América Latina, África e outros parceiros estratégicos".

O estudo "Vinte anos de economia brasileira" apresenta mais de 150 gráficos e tabelas divididos em seis segmentos (setor externo, atividade econômica, crédito e financiamento, inflação e preços, contas públicas, emprego e distribuição de renda) que possibilitam uma visão macroeconômica do país. Segundo os autores a intenção "é disponibilizar dados que possam contribuir à análise objetiva das restrições e desafios atualmente enfrentados pela economia brasileira e ajudar na construção de alternativas para seu equacionamento e preservação dos avanços alcançados, tanto na esfera econômica quanto na social".

Da "fria" apresentação dos números fica visível a transformação do Brasil nos últimos 20 anos, de uma economia frágil, com muitos problemas estruturais, e dependente do comércio dos EUA, para uma economia mais robusta, com excepcional avanço quantitativo em algumas áreas e dinamismo econômico mesmo após a crise mundial a partir de 2009.

Veja, a seguir, alguns dos gráficos apresentados no estudo. O trabalho completo pode ser acessado pelo
























domingo, 2 de agosto de 2015

Mais de 70 projetos envolvendo a Petrobrás tramitam na Câmara Federal


Não é apenas o Projeto de Lei do Senado (PLS) 131 que ameaça tirar da Petrobrás expressivo naco de participação na exploração dos recursos energéticos do país, em especial o pré-sal. Serra tenta cumprir, em 2015, o que havia prometido em 2009. Então candidato a Presidência da República, Serra enviou, segundo o Wikileaks, uma mensagem para Patricia Padral, diretora da Chevron no Brasil. “Deixa esses caras (do PT) fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo funcionava... E nós mudaremos de volta”, teria dito o agora senador.

A maior fonte energética do mundo e a maior empresa do país são alvos de dezenas de projetos que tramitam na Câmara Federal. Pesquisa encaminhada pelo gabinete do deputado Davidson Guimarães (PCdoB-BA) a pedido da reportagem mostra que há pelo menos 73 projetos em andamento nas várias instâncias da Câmara Federal.

Nem todos, no entanto, são nefastos à Petrobrás, apesar de alguns já terem caducado, como o Projeto de Decreto Legislativo 1409/2013, do deputado Chico Alencar (Psol-RJ), que “susta o edital da décima segunda rodada de licitações”. Dois anos após a licitação ter ocorrido, o PDL continua aguardando parecer.

Um que chama a atenção é o PL 915/1999, do ex-deputado Cunha Bueno (PPB-SP), que “autoriza o uso do saldo do FGTS para compras de ações da Petrobrás quando da sua privatização no contexto do Programa Nacional de Desestatização”. Nem Bueno é mais deputado, nem o PND está ativo, mas o projeto continua tramitando pelos corredores da Câmara como um fantasma que se nega a descansar em paz.

Em termos de divisão por partido, PMDB (15%), PT (12%) e PSDB (11%) lideram as indicações.


Alvo: modelo de partilha
Há projetos que versam sobre a destinação de royalties, que estabelece o estatuto jurídico das empresas públicas, sobre a comercialização e distribuição de petróleo e gás, sobre a proteção ao meio ambiente entre outros tantos temas, mas os mais perigosos, sem dúvida, são os que atacam diretamente a Lei de Partilha, de 2010. Pelo menos dois projetos nesse sentido tramitam na Câmara Federal, o PL 4973/13, de Raul Henry (PMDB-PE) e o PL 600/15, de Jutahy Magalhães (PSDB-BA). Ambos têm teor semelhante ao PLS 131 quanto à participação da Petrobrás como operadora única. “Revoga dispositivo que estabelece a participação mínima da Petrobrás no consórcio e também revoga a obrigatoriedade da Petrobrás ser a operadora de todos os blocos contratados sob o regime de partilha de produção”, definem em consonância os dois projetos (leia quadro ao lado).

A pesquisa levantada pela reportagem é um importante material de consulta para se compreender os trâmites do debate sobre a Petrobrás na casa de leis do país.

Para o diretor do Sindipetro Unificado e da FUP (Federação Única dos Petroleiros), João Antônio de Moraes, esse conjunto de projetos evidencia a necessidade de aprimorar a luta para derrotá-los. “Além da pressão contra o Congresso nesse momento, é importante apoiarmos e votarmos em parlamentares e prefeitos progressistas na próxima eleição”.
 

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Petrobrás da Av Paulista atrasa entrada em três horas

Mais de mil pessoas participaram do ato
Tradicionalmente mais arredio às mobilizações sindicais, o Edifício sede da Petrobrás (Edisp), na Avenida Paulista, amanheceu com um cenário diferente na quarta, 22 de julho. O ato de atraso foi compreendido pela grande maioria dos trabalhadores, que tranquilamente aderiram ao movimento e aguardaram no saguão do edifício pelo recado dos diretores do Sindicato dos Petroleiros de São Paulo (Unificado). "Sabemos que não é campanha salarial, mas é um movimento importante", afirmou A.F.L, que conversava com um grupo de amigos e se protegia da fria manhã paulistana. Mais de 1000 pessoas participaram do ato
Movimentos sociais, como o MAB (Movimento dos Atingidos por Barragem), e sindicais, como a CUT e Apeoesp (sindicato dos professores de SP), entre outros, se juntaram à luta dos petroleiros e participaram da mobilização. A mobilização faz parte das manifestações que culminam na sexta-feira, 24, com a greve de 24 horas em todo o Sistema Petrobrás.

Gestão contra o Brasil
Cibele Vieira, coordenadora do Sindicato
Por volta das 9h30, diretores do Unificado deram início às falações. A coordenadora do Sindicato e trabalhadora do Edisp, Cibele Vieira, foi explícita ao afirmar que não se tratava de uma atividade da campanha reivindicatória. "Compreendemos que a luta mais importante neste momento é a da defesa da empresa como patrimônio público", disse, e alertou sobre os riscos do plano de negócios que está sendo edificado por esta nova gestão da empresa. Segundo Cibele, o corte previsto de investimentos e "otimização de recursos" chegam a mais 80 bilhões para os próximos anos, o que vai afetar profundamente a empresa e provocar milhares de demissões. "Apenas entre os terceirizados, são mais de 100 mil demissões, inclusive por isso pedimos hoje para os terceirizados ficarem aqui conosco neste ato".
Além dos empregos, a coordenadora do Unificado denunciou que os cortes atingem diretamente áreas de segurança, o que coloca em risco a integridade, a saúde e a vida dos trabalhadores e cobrou, da empresa e do governo alternativas. "Se o governo deu isenção de impostos para montadoras de automóveis, por que não pode fortalecer a Petrobrás, que é o braço do estado nas políticas econômicas e sociais?".
Por fim, Cibele alertou sobre os riscos de aprovação de leis que visam a prejudicar a Petrobrás e a exploração do pré-sal, como o PLS 131 (Projeto de Lei do Senado), de autoria de José Serra, que tira da Petrobrás a garantia de ser exploradora única do pré-sal. "Essa lei, se passar, significa que não será mais o Brasil que vai explorar seu petróleo e sim alguma empresa estrangeira, que irá retirar óleo bruto e depois revender para nós manufaturado. Se o Congresso derrubar a lei de partilha, a Educação e a Saúde irão perder bilhões em recursos" afirmou, e completou: "A gestão da Petrobrás hoje é contra o Brasil"!

Solidariedade   
Jacy Afosnso, da CUT
 O diretor da CUT e dirigente bancário, Jacy Afonso, denunciou que Aldemir Bendine aplicou a mesma visão de mercado quando estava à frente do Banco Brasil. "O Dida [Bendine] mudou até a missão do BB, quem entrar no site pode ler que o Banco do Brasil tem a missão de ser um banco de mercado com espírito público, é isso que ele quer fazer com a Petrobrás também", afirmou.
Jacy citou, ainda, interesses estrangeiros na exploração do petróleo brasileiro, principalmente dos EUA, e afirmou que a CUT é contra o ajuste fiscal proposto pelo governo, do qual a venda de ativos da Petrobrás faz parte, e cobrou que o governo oriente seus conselheiros do CA da Petrobrás sobre qual é a efetiva posição do governo em relação à empresa.
Dirigentes do Sindicato e de movimentos sociais
Dirigentes de outras entidades, como MAB, Apeoesp e Coletivo Juventude e Revolução, expressaram publicamente sua solidariedade à luta dos petroleiros. O diretor da Regional Mauá do Sindicato, Auzélio Alves, exortou a todos a participar da paralisação do dia 24, pois, segundo ele, "o desinvestimento será o caos para os trabalhadores e para o Brasil". O ato terminou com a fala do coordenador do Daesp (Departamento de Aposentados do Sindicato), Jairzinho, que reforçou a necessidade de união de todos os trabalhadores nesse árduo tempo que a classe enfrenta.  

Exposição e teatro

A exposição itinerante "A greve do fim do mundo", que conta a história da greve dos petroleiros de 32 dias em 1995, foi instalada no saguão do Edisp e está aberta a visitação de quem desejar. A exposição fica até a próxima semana. Nesta sexta, 24, como parte das mobilizações no Edisp ocorre a apresentação teatral baseada nos fatos da greve de 1995.  

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Maioriadade penal é rejeitada, mas...

Foto: Luiz Macedo / Câmara dos Deputados

Na madrugada da quarta-feira, 30 de junho, a Câmara dos Deputados rejeitou a proposta de maioridade penal. O PEC 171/93 (Proposta de emenda Constitucional) obteve 303 votos, quando o mínimo necessário eram 308. Foram 184 votos contra e 3 abstenções.
Setores progressistas comemoraram a derrota dos conservadores, mas essa batalha ainda não acabou. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, quer retomar a votação. “A votação ainda está muito longe de acabar, foi uma etapa dela”, disse Cunha.
O resultado deve ser comemorado, mas sem festa, pelo contrário. Mais de 300 votos a favor de um frontal ataque à civilidade demonstra que as ideias progressistas caminham em um campo minado em Brasília.
Esse atual Congresso é reacionário e vai tentar acabar com as poucas conquistadas obtidas arduamente pela sociedade. Não há deputados democratas e de esquerda suficientes para barrar esse processo, quem tem que tomar a história nas mãos e mudar esse curso são os movimentos sociais organizados.  

sexta-feira, 19 de junho de 2015

São Paulo, a vanguarda do atraso

Na manhã da sexta-feira, o Fórum dos Movimentos Sociais do Estado de São Paulo promoveu, na Assembleia Legislativa, o seminário Direitos Humanos no Estado, com o objetivo de discutir as práticas adotadas pela PM e o projeto que está em discussão na Câmara sobre a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos.
A deputada e psicóloga Beth Sahão abriu os trabalhos afirmando que a lei da maioridade penal é a solução de quem não quer se comprometer com a cidadania e os direitos humanos. “Alckmin fechou 3.500 salas de aula no Estado, como dar aos jovens condições de uma educação decente dessa maneira?”, questionou a parlamentar, para quem a escola deveria ajudar a tirar os jovens das ruas e das influências do crime.
O professor e militante do movimento negro, Douglas Belchior, lembrou que o Código Penal de 1890 considerava menor inimputável até 9 anos de idade. “Essa lei foi criada 2 anos após a abolição da escravidão, quem vocês acham que era o alvo dela?”.
O ex-secretário de Segurança de São Paulo, Benedito Mariano, avaliou que a onda conservadora que se instalou na sociedade é fruto
da negação da representação política das entidades (partidos, sindicatos, movimentos). Segundo ele, como diversas propostas não saíram do papel, como a reforma política, foi se criando uma crítica difusa às organizações sociais e à esquerda de uma maneira geral, que desembocou em um movimento conservador, que toma forma, agora, em setores expressivos do Congresso.

Classe média
Para o advogado ativista, Aton Fon, a esquerda e as entidades organizadas da sociedade perderam o discurso da classe média. Ele avaliou que em determinado período da ditadura a classe média passou a apoiar a democratização e os direitos humanos, “porque muitos militantes de esquerda eram filhos dessa classe média”.
Com o governo Lula, avaliou, houve uma mudança do econômico, com as classes mais baixas ganhando poder de consumo e o enriquecimento ainda maior das classes abastadas. “A classe média vê os de baixo subirem e os de cima se distanciarem ainda mais e, manipulada pela mídia, vai para a oposição e passa a endossar teses reacionárias como a redução da maioridade penal e a criminalização dos movimentos sociais.

PM Polícia que Mata
A professora do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de São Carlos, Jacqueline Sinhoretto, acredita que tudo o que existe na questão de atraso quanto aos direitos humanos tem em São Paulo a sua vanguarda. “No caso da segurança pública, temos quase 40 anos de história da democratização e não conseguimos fazer a reforma da polícia e da Justiça”, explicou.
Ela citou números que mostram a ideologia da política de segurança do Estado. Segundo dados apresentados pela professora, São Paulo tem a maior taxa de encarceramento do país, 30% dos presos do país, enquanto a população do estado representa 21% da nacional. Entre essa população carcerária, três em cada quatro presos em SP são negros.
Quando se pensa em mortes cometidas pela PM, os dados são igualmente aterrorizantes. Em 2014, segundo Fon, a 54% das mortes promovidas pela PM foram de jovens negros. “A PM de São Paulo mata por dia o que a polícia da França mata em uma ano”, comparou Jaqueline Sinhoretto.  
fonte: Ponte.org.br

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Alesp cria Frente Parlamentar em Defesa da Petrobrás

Na manhã de 3 de junho, o auditório da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) lotou para o evento de instauração da Frente Parlamentar em Defesa da Petrobrás, iniciativa da deputada Leci Brandão (PCdoB), que contou com a adesão de 36 parlamentares de 12 partidos. Além de Leci, a mesa de abertura foi composta por representantes do PT e do PCdoB, pelos deputados federais Davidson Magalhães (presidente da Frente em Defesa da Petrobrás da Câmara Federal) e Orlando Silva (PCdoB-SP), pela vice-prefeita Nadia Campeão, pelo ex-diretor da ANP, Haroldo Lima e pelos petroleiros João Moraes, Cibele Vieira e Ademir Caetano.

Leci Brandão abriu os trabalhos afirmando que o objetivo da Frente era defender a empresa, mas, principalmente, "os trabalhadores da Petrobrás que são pessoas honradas e nada têm a ver com o que está acontecendo", em referência às denúncias de corrupção.

A vice-prefeita destacou que a defesa da Petrobrás não está restrita à Alesp, mas deve se expandir para os movimentos sociais e outras esferas públicas, como a própria prefeitura da Capital.

Para o deputado estadual João Paulo Rillo (PT), a Alesp deveria estar discutindo a destinação dos royalties, "se para a Educação ou para o buraco da corrupção do metrô", e denunciou a tentativa de parlamentares tucanos de votar a toque de caixa um projeto que traz para o âmbito estadual atribuições da Agência Nacional de Petróleo. "Esse projeto só não foi votado ontem (2) por falta de quorum, mas está na pauta e será votado logo, sem qualquer discussão com a sociedade".

Projetos perigosos
O deputado federal Davidson Magalhães (PCdoB-BA) alertou para a quantidade de projetos existentes em discussão no Congresso Nacional que prejudicam diretamente a Petrobrás e seus trabalhadores. O parlamentar citou, além do projeto do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), que acaba com o modelo de partilha das áreas do pré-sal, o de responsabilidade das empresas estatais, que favorece diretamente acionistas e empresas estrangeiras, projeto que acaba com a política de conteúdo nacional, entre outros. "Esses projetos visam fazer o país voltar à época colonial, sem soberania", afirmou Magalhães.

Falando a respeito das denúncias de corrupção na empresa, a coordenadora do Unificado, Cibele Vieira, disse que os petroleiros estão enfrentando as acusações de cabeça erguida, mas que ainda é grande a pressão, e contou o caso da filha de um petroleiro que teve de fazer um trabalho escolar sobre a operação Lava Jato e depois de consultar o pai e vários sites concluiu que a empresa não está quebrada como afirmam algumas mídias. "A escola não quis aceitar o trabalho da menina de 13 anos e os colegas a isolaram, dizendo que não iriam mais chamá-la para festinhas porque ela apoiava corruptos".

O deputado Orlando Silva destacou a importância de o movimento social estar junto na luta, levantando a bandeira da defesa da empresa. A ideia foi compartilhada pelo ex-presidente do PCdoB, Renato Rabelo: "sem o povo na rua não ganhamos esta parada".

O dirigente da FUP, Ademir Caetano, que representou a CTB, lembrou os 20 anos da greve de 1995 e a resistência dos petroleiros contra o projeto neoliberal de Fernando Henrique. "Estamos novamente enfrentando poderosos interesses contra nossa empresa".

O petroleiro João Moraes fez um emocionado discurso em defesa dos recursos do pré-sal e da responsabilidade desta geração para com o país e o planeta. "De que adianta toda essa riqueza do pré-sal se ela for usada como foi o nosso ouro, nossa cana de açúcar, que beneficiou alguns poucos sem ajudar a desenvolver o Brasil. A natureza levou 150 milhões de anos para criar o pré-sal, nós não podemos simplesmente extinguir essas reservas para alimentar a ganância do lucro de alguns, devemos às próximas gerações o cuidado com essa espetacular riqueza".

Educação de qualidade
Último orador, o ex-presidente da ANP, Haroldo Lima, fez uma longa contextualização sobre o cenário internacional que levou à criação da Petrobrás, as lutas internas que a empresa teve de enfrentar contra entreguistas de todas as épocas e o recente episódio da descoberta do pré-sal e da criação da lei de partilha. Segundo ele, quando o então presidente Lula foi informado sobre a magnífica descoberta, coçou o bigode e a primeira coisa que disse foi: "Poderemos dar Educação de qualidade para todo o povo com esses recursos". Na sequência, contou Haroldo, Lula convocou uma reunião ministerial, criou um grupo de trabalho sob coordenação da então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e assim começou a edificação do projeto de partilha. "Quem levou com firmeza este projeto até o fim foi a Dilma, porque havia muita pressão contra a sua aprovação e se ela não tivesse pego pela unha, como dizem, o projeto de partilha não tinha vingado", afirmou.


A deputada Leci Brandão concluiu os trabalhos informando que Unificado enaltece a iniciativa da parlamentar e estará junto em mais essa trincheira contra os entreguistas da soberania nacional.
a Frente irá chamar representantes dos movimentos sociais e sindicais para discutir as estratégias de enfrentamento e defesa da empresa. A diretoria do

sábado, 2 de maio de 2015

Disputa interna do PMDB ajuda luta contra 4330

Pela primeira vez em muitos anos, o PMDB, tradicional partido de apoio ao governo – seja qual for –, surge com possibilidade de lançar candidatura própria em 2018, abrindo uma terceira via entre a disputa PT x PSDB.
Líderes da legenda começam a digladiar para ver quem chegará em 2018 com chances de concorrer. Parece cedo, mas assim é o relógio político: alguns não saíram ainda da eleição passada, pensando que estão terceiro turno, outros já vislumbram o próximo pleito, acreditando no enfraquecimento das duas grandes agremiações.
Nesse tabuleiro três figuras se destacam no atual cenário: o vice-presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha e o do Senado, Renan Calheiros. A rigor nenhum tem estatura ética e política para alçar ao mais alto posto da nação, mas isso é outra conversa.
Cunha e Renan sabem que se vingar a tese aventureira de impeachment da presidente Dilma, jogam o Palácio do Planalto no colo de Temer e, por terra sonhos de serem candidatos pelo PMDB em 2018, visto que Temer seria o candidato natural do partido. Isso explica declarações de Cunha contra o processo de impedimento de Dilma.
Renan e Cunha também travam uma batalha entre si, turbinados pela cobertura midiática.
No recente lance de holofotes, Renan atacou o projeto de terceirização aprovado pela Câmara e vai tentar mudá-lo no Senado, angariando os louros de uma pretensa “defesa dos direitos dos trabalhadores”. Ao mesmo tempo avançou contra Michel Temer por fazer articulação política à base de favores e cargos – áreas em que o PMDB sempre foi mestre.
Essa disputa interna de interesses favorece a luta contra o PL 4330 e deve ser aproveitada
pelas entidades sindicais e sociais para fazer sucumbir esse projeto – ou, pelo menos, seus aspectos mais nefastos.
Ainda é cedo para dizer quem dos três chegará “vivo” para a disputa de 2018, mas é o momento para enterrar o projeto de precarização do trabalho e outros que avançam na pauta da Câmara Federal.  

quinta-feira, 23 de abril de 2015

PL 4330 : Bancada paulista é mais conservadora que média nacional

Os números da votação do PL 4330 pela Câmara dos Deputados, no dia 22, mostram que a bancada paulista é ainda mais conservadora do que a média nacional.

Enquanto no total da Câmara, 53% dos parlamentares votaram a favor da emenda substitutiva, na bancada paulista esse índice chegou a 57,9%.

As bancadas de esquerda que rejeitaram o PL (PT, PCdoB e PSOL) representam, em nível nacional, 17,1% dos deputados que votaram, mas respondem por 21% da bancada paulista.

Três pra lá, três pra cá é a dança do conservadorismo de São Paulo, não por acaso onde o PSDB comanda há muitos anos.


sexta-feira, 17 de abril de 2015

E se fosse com a Petrobrás?

Foto Paulo Whitaker/Reuters


O incêndio na Ultracargo, no Terminal de Alemoa, iniciado no dia 2 de abril, foi notícia em toda a imprensa mundial. Foram 197 horas ininterruptas de trabalho para conter as chamas que atingiam 80 metros de altura e que podiam ser vistas a 15 km de distância.
Entre as várias equipes de combate ao incêndio encontravam-se brigadistas  da Petrobrás e da Transpetro. A ajuda da estatal foi o resultado da necessidade do momento com grande articulação nacional.

O prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), entrou em contato com o vice-presidente Michel Temer (PMDB), que ligou para o presidente da Petrobrás, Aldemir Bendine. Além dos brigadistas, a Petrobrás forneceu equipamentos e Líquido Gerador de Espuma (LGE).

A conduta corajosa de bombeiros e brigadistas foi praticamente ignorada pela grande mídia. O colunista do portal UOL, Josias de Souza, publicou no dia 5 de abril uma notícia sobre o tema. E pouco mais se falou.

Mas, cabe pensar. E se o acidente fosse com a Petrobrás? Quantos “josésserras” da vida ergueriam a voz para pedir a privatização da companhia? Quanto o fato seria explorado pela imprensa e associado a denúncias de corrupção? Quanto o Congresso usaria politicamente em CPI.

A Ultracargo foi protagonista do maior incêndio industrial do país, contido graças a uma grande operação que envolveu as esferas federal, estadual e municial; causou um desastre ambiental incalculável, prejuízos para vários setores da economia e a imprensa trata o caso com a mesma seriedade que o último desfile de Gisele Bündchen.

O jornal Primeira Mão, da FUP (Federação Única dos Petroleiros), relembra outros casos, como a explosão na plataforma da BW Offshore e o vazamento no Campo de Frade promovido pela Chevron. Nos três casos, nenhuma voz na mídia comercial se indignou pelo estrago que faz o lucro, as mazelas da terceirização e pediu que essas empresas fossem estatizadas em nome do bem da população.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Gabrielli: o julgamento político da Petrobrás


José Sérgio Gabrielli esteve à frente da Presidência da Petrobrás por sete anos, de 2005 até 13 de fevereiro de 2012, quando passou o cargo para Graça Foster. Isso não o livrou de estar no olho do furacão das denúncias envolvendo a Petrobrás na Operação Lava Jato, e,  principalmente, no controverso episódio da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.  "Há uma contabilidade política e não técnica", sustenta Gabrielli sobre o caso.
Nesta entrevista concedida ao jornalista Norian Segatto em São Paulo, em 9 de fevereiro, acentua-se o lado do professor universitário baiano. Gabrielli retira a gravata utilizada no compromisso anterior, se ajeita na cadeira e fala pausada e didaticamente sem escapar de nenhuma questão e sustentando que não se pode confundir a ação de pessoas dentro da Petrobrás com a empresa e seus funcionários. Confira.   

Norian - Acabou de terminar a eleição do representante dos trabalhadores no Conselho de Administração. Neste momento de crise o que significa esta eleição?
Gabrielli - É muito importante a participação de um representante dos trabalhadores. O Conselho tem dez membros, a maior parte é de conselheiros de fora da empresa, o Deyvid vai representar a visão de quem está dentro da empresa, do trabalhador. No Conselho há temas que são mais corporativos e não apenas da relação capital trabalho e ele terá um papel muito importante, particularmente com a nova diretoria, que também vai ter uma fase de adaptação.

Você acha que a composição com diretores de carreira e de fora da empresa é um equilíbrio saudável?
Depende, na história da Petrobrás a maior parte dos diretores sempre foi de carreira, com a vantagem de conhecer mais a máquina. Quando entrei na diretoria da Petrobrás, em 2003, o Zé Eduardo Dutra era o presidente, eu e o Ildo [Sauer] éramos os dois únicos de fora da companhia. É interessante notar que os problemas que a empresa enfrenta são provenientes de pessoas de carreira, tanto o Paulo Roberto como o Barusco [Pedro] têm mais de 30 anos de companhia.

A empresa tem sido muito afetada em sua imagem, até mais do que nos resultados, com essa crise. Como isso afeta a importância estratégica da Petrobrás para o desenvolvimento do país?
Essa é uma questão muito importante. A imagem da Petrobrás está sendo afetada porque há uma confusão entre fenômenos que são reais com ilações, suposições e interpretações  de um clima que não é real. Os atos de corrupção confessados pelo Paulo Roberto e pelo Barusco são circunscritos a alguns episódios, são atos graves, mas relativamente pequenos diante do volume de negócios da Petrobrás. Esses atos precisam ser combatidos, mas não se pode confundir atos criminosos com o comportamento da empresa. Nos últimos dez, quinze anos a empresa saiu de uma situação em que estava fracionada, sendo preparada para ser vendida, que valia 15 bilhões de dólares no mercado para se transformar em uma empresa que chegou a valer 380 bilhões e hoje vale cerca de 50, 60 bilhões de dólares, ainda quatro vezes mais do que valia em 2002. Nesse período a empresa saiu de 33 mil empregados para 80 mil, dobrou a capacidade de pesquisa e desenvolvimento, descobriu o pré-sal, cresceu sua área produtora, se transformou na maior empresa do mundo em águas profundas, expandiu a capacidade de refino, é maior produtora de energia elétrica e partir do gás do país, montou a rede nacional de gasoduto, voltou a Petroquímica, expandiu no setor de biocombustíveis, saiu de um investimento de 5 bilhões de dólares ano para 45 bilhões (para 2015 estão previstos 33 bilhões). A empresa tem uma condição praticamente única no mundo, porque tem reservas de mais de 20 bilhões de barris, tem capacidade de produzir, tem um grande mercado doméstico, na ordem de 2,3 milhões de barris por dia de consumo, , o que muitas empresas internacionais não têm. Essa fortaleza que é a Petrobrás está sendo confundida com o comportamento criminoso de algumas pessoas, que caracterizam o conjunto de atividades da companhia. Acho que temos de dizer isso para a sociedade, os casos criminais são tratados pela polícia e justiça, os casos de gestão são tratados pela companhia, não podem tratar as duas coisas como se fossem juntas.

Mas como uma empresa como a Petrobrás, com tantos controles, deixa um caso desses, mesmo que seja pontual,  acontecer durante tanto tempo sem alguém pegar?
Os controles da Petrobrás foram adaptados, em 2006, para a lei americana Sarbanes-Oxley,  criada para enfrentar casos da Enron. Essa lei exige um conjunto de controles para que o balanço seja publicado. Ele foi certificado de 2006 a 2011 pela KPMG, e em 2012 e 2013 pela Price (Waterhousecoopers). Em 2014, com a denúncia de Paulo Roberto, a Price recuou. A Petrobrás tem certificações das principais auditoras do mundo atestando que tudo estava sendo controlado. Depois das denúncias, a empresa contratou dois escritórios internacionais, tem centenas de funcionários trabalhando para checar ao assunto, tem investigação da polícia federal, do Ministério Público e não se consegue chegar a conclusões. Como é que em uma operação normal ia se descobrir? Na delação, tanto o Paulo Roberto como do Barusco ressaltam que os procedimentos internos da Petrobrás foram seguido, o que houve foi a utilização do que os empreiteiros ganhavam. É muito difícil que de dentro da Petrobrás se visse isso e que contabilmente se mensure isso.

A crise na Petrobrás gera, por extensão, crise em vários setores, como estaleiros e empreiteiras, com grande onda de demissões. Isso pode levar o país a uma situação complicada do ponto de vista econômico?

Gabrielli - Esse é o grande perigo que temos em 2015. As principais empresas de construção pesada, que constroem a infraestrutura do pais, estão arroladas na operação Lava Jato. Se essas empresas começarem a enfrentar problemas mais graves,  vão parar de funcionar, haverá uma onda de desemprego que vai se espalhar para metalurgia, para a indústria naval etc.


Já começou.
E isso pode levar a um grave problema de redução da atividade econômica em 2015, e tem efeitos de médio e longo prazos. O pré-sal é um volume muito grande de produção, há o risco da chamada doença holandesa, ou seja, o país produz e tira toda sua renda do petróleo,  não cria nada depois e fica dependente do petróleo. Uma das maneiras de evitar isso é criar uma indústria nacional, fornecedora da indústria de petróleo. O tamanho do pré-sal exige uma indústria nacional que seja capaz de prover os bens, equipamentos e serviços para essa indústria, criando emprego e renda para o conjunto da atividade econômica brasileira. Se essas empreiteiras entrarem em crise, a política de conteúdo nacional vai ter que ser modificada porque não será possível ter as sondas, as plataformas, os sistemas submersos, os dutos, que são produzidos no Brasil. Terá que se buscar no exterior, gerando emprego e renda fora do país. 

O atual cenário de queda no preço do petróleo ajuda ou atrapalha a Petrobrás?
O preço do petróleo está caindo por uma mudança muito importante no mercado mundial. De 1973 a 2013, o ajuste do preço do petróleo dependia muito fortemente da variação da produção da Arábia Saudita, que fazia o ajuste no mercado com sua própria produção. Em 2013 a Arábia Saudita decidiu não fazer isso, por duas razões. Primeiro porque os Estados Unidos estavam se tornando auto suficiente na produção de gás e aumentando muito rapidamente a produção de petróleo leve, o que  tornaria a Arábia Saudita mais vulnerável à pressão norte americana. Por outro lado Irã, a Venezuela e a Rússia, que adversários da Arábia Saudita dependem do preço do petróleo mais alto. Se a Arábia Saudita deixasse o preço cair, tanto o Irã como a Venezuela, que são inimigos dos Estados Unidos ficariam muito frágeis, o que faria com que o governo norte americano ficasse mais interessado em baixar o preço do petróleo. Há um fenômeno de geopolítica dos Estados Unidos contra o Irã, a Venezuela e a Rússia, que leva à queda do preço do petróleo.

Onde isso vai parar?
O que vai parar à queda do preço é a paralisação do crescimento da produção americana de gás de xisto e date oil e isso já começou. Por outro lado existem três novas áreas de expansão da produção mundial; o pré sal brasileiro, o petróleo ultra pesado da Venezuela e o das areias betuminosas do Canadá. Esses dois só se sustentam com o preço acima de 70 dólares o barril, o pré-sal brasileiro resiste acima de 40 dólares. Se o preço fica na faixa de 50, 60 dólares o barril, o pré-sal é viável, mas torna inviável tanto o Shale gas (gás de xisto) norte americano, o ultrapesado venezuelano e o das areias betuminosas canadenses, ou seja tira produtores novos. O mercado do petróleo está geopolitacamente motivado, quem está ganhando neste momento é quem está integrado com refino e produção porque a tendência é que os preços dos derivados não caiam tanto quando o petróleo. Quem produz derivados vai ter margem, como é o caso das refinarias da Petrobrás.




Na sua gestão havia um plano de investimento, ousado por conta do pré-sal, que está sendo revisto para baixo. Foi um erro no sistema de partilha deixar a Petrobrás como operadora única?
Acho que são duas coisas diferentes. Todo ano a Petrobrás faz uma avaliação dos cinco anos seguintes e os planos apresentados levavam em conta a descoberta do pré-sal, a necessidade de investir pesadamente, mas com conteúdo nacional , ou seja criar uma indústria brasileira de fornecimento para a Petrobrás. Por outro lado, com o crescimento do mercado de derivados, era necessário reformular os investimentos no refino, foi quando se pensou em criar novas refinarias para viabilizar a expansão. Esse conjunto de investimento está hoje sob nova avaliação. Pelo que se está sendo anunciado pela Petrobrás, o pré-sal está preservado,  mas vai haver redução do investimento no refino.


Neste caso, manter a Petrobrás como operadora única é importante?
Eu acho que sim, no sistema de partilha, a Petrobrás como operadora única com 30% é a garantia que temos de que vai desempenhar papel chave nas novas áreas do pré-sal . Se o governo brasileiro resolver acelerar o processo das novas áreas a Petrobrás não terá condições, mas o ritmo de abertura de novas áreas vai ser determinado pela capacidade da indústria brasileira de fornecimento crescer. É o conteúdo nacional que está em jogo.

Corre na Petrobrás informações de que vai haver parcerias no refino e esse modelo preocupa muito o movimento sindical.
Não acredito que seja viável o modelo estilo consórcio de exploração para o refino brasileiro, não acho que nenhum grande grupo vai entrar para ser sócio no refino, porque a Petrobrás é completamente controladora do mercado de derivados. Refino é um investimento de longo prazo, cuja margem flutua muito. Vale a pena investir no refino quem é produtor de petróleo, porque a margem do refino compensa quando o preço do petróleo cai. Se você está nas duas pontas, há um equilíbrio, mas se só está no refino, fica muito vulnerável, então não acredito que seja possível ter sócios de refino no Brasil.

A Petrobrás é uma empresa pública, com grande parcela de capital privado, com ações na Bolsa de Nova Iorque, e com um comando que é parte do governo, parte privado. Isso gera uma crise de identidade na empresa?
Sempre defendi que havia certa convergência de interesses entre os acionistas minoritários e o governo. Todos querem aumentar a lucratividade da Petrobrás. Do ponto de vista da política de preço de derivados de gasolina e do diesel pode haver uma contradição no curto prazo, porque não interessaria fazer o preço da gasolina variar como ocorre no mercado internacional; por outro lado, manter o preço da gasolina por muito tempo desconectado do internacional é um problema. Distribuir dividendos ou investir, às vezes também tem contradição, mas o investidor da indústria do petróleo não é de curto prazo, pois sabe que um projeto de exploração leva sete anos entre a descoberta e o primeiro óleo, uma refinaria leva seis, sete anos para ser montada. O investidor que entrou na bolsa para ganhar de um dia para outro não investiu na empresa de petróleo, investiu em um papel que tem grande flutuação e isso é um paraíso para o especulador.

George Soros que o diga...
Não vou citar nomes (rindo).

Voltando à questão da partilha. Essa onda de denúncia tem componentes políticos, e têm setores propagando que o modelo de concessão era melhor para o país. Qual é a sua opinião?
O PSDB está dizendo que tem de voltar ao sistema de concessão. Acho que há um erro fundamental nessa posição. O sistema de concessão pode até ser eficiente quando se tem alto risco exploratório, não se sabe se tem petróleo ou não, onde há investimento de risco. Isso não se aplica para o caso do pré-sal, o investidor tem quase certeza que vai achar petróleo, então não faz sentido a empresa que vai concorrer faça a escolha de qual valor ela espera do futuro. O sistema de partilha dá ao estado brasileiro uma parcela da rentabilidade futura que pode ser até maior do que no caso da concessão. Eu defendo a partilha como o melhor modelo para o caso de áreas em que não há risco exploratório como é o caso do pré-sal.

Até onde existe espionagem industrial contra a Petrobrás?
É possível que haja espionagem, hoje vivemos um problema muito sério que é fato de que os computadores e telefones celulares dos gerentes de primeira linha estão copiados nas mãos de dois escritórios norte-americanos. Isso pra mim é um problema muito grave porque não se sabe o que será feito com essas informações.

Quantos gerentes foram atingidos com essa medida?
Cerca de três mil.

Ou seja, todos os dados de todos os HDs de três mil altos funcionários da Petrobrás estão nas mãos de uma empresa norte-americana?

Gabrielli - Sim, o que é preocupante.


Qual foi o momento mais tenso da sua gestão?
Houve vários momentos tensos, mas acho que a decisão de informar o governo brasileiro da descoberta do pré-sal e propor que o governo repensasse a estratégia foi muito importante. Outro momento foi o processo da capitalização da Petrobrás.  Fizemos em 2010 uma operação de vendas de ações em que aumentamos a presença do governo na Petrobrás, capturamos recursos do mercado financeiro, fizemos a maior capitalização de uma empresa da história do mundo e conversamos com alguns milhares de grandes fundos investidores mundialmente. Eu pessoalmente conversei com cerca de 700 fundos tentando mostrar o que era o pré-sal brasileiro. Fizemos isso com trinta principais bancos do mundo, isso foi uma coisa muito importante.

O movimento sindical te enchia muito o saco?
Não, (rindo), tanto o Zé Eduardo como eu mantivemos um diálogo permanente com o movimento sindical, houve momentos de contradição e conflitos, o que é normal na relação capital trabalho, mas sempre havia uma porta aberta. Um momento de muita tensão foi na repactuação do plano Petros, que foi um elemento importante para dar estabilidade de médio e longo prazo ao plano, que se não fosse feito aquilo estaria em uma situação muito difícil e fragilizada para os aposentados e pensionistas.

Houve o resgate de diversos direitos que haviam sido suprimidos no governo anterior.
Do ponto de vista dos benefícios para os trabalhadores acho que fizemos bons acordos coletivos. Sempre dizia que era bom o trabalhador olhar sua declaração de imposto de renda de 2003 para comparar com hoje. Além do ganho real tivemos um aumento no contingente, 50% dos trabalhadores da Petrobrás têm menos de 10 anos de companhia; acredito que no período em que estive na gestão houve uma intensificação do orgulho de ser petroleiro.

E como se resgata esse orgulho diante de tantas denúncias?
Como disse tem que separar o que é criminal do que é empresarial. Não se pode confundir o que foi o comportamento de alguns criminosos com o da categoria ou da empresa. Se não conseguir separar isso vai ser muito difícil, fica a imagem que a Petrobrás é um mar de lama, todo mundo é corrupto, isso é um absurdo, é um desrespeito a uma empresa fantástica, que tem um quadro de funcionários extraordinário, que tem capacidade de gestão.

Uma última questão. Quem é leigo e lê as notícias sobre a Refinaria de Pasadena fica sem saber o que pensar tamanha são as informações desencontradas. Qual é o seu ponto de vista sobre a compra da refinaria, foi um mau negócio para a Petrobrás?
Primeiro é preciso saber porque a Petrobrás comprou a refinaria nos Estados Unidos. Essa estratégia foi definida em 1997, naquele ano havia a perspectiva de não crescer o consumo de gasolina e diesel no país, de estagnação do consumo de derivados. Também era previsão em 1997, que a produção de petróleo Marlim ia crescer. Se vai crescer a produção de petróleo e não vai crescer o consumo, não tem sentido crescer a refinaria no Brasil e sim buscar refino lá fora. Essa era a estratégia foi implementada pela Petrobrás até 2005. Em 2005, depois de ver várias refinarias, encontramos a de Pasadena, que estava relativamente barata, localizada no centro do refino norte americano, no Texas, que tem três milhões de barris de capacidade de refino, mais do que o Brasil todo refina; estava localizado na boca de um oleoduto de extraordinária capacidade para levar petróleo do Golfo do México a Nova Iorque, ou seja estava em um lugar logisticamente muito adequado.  A refinaria foi comprada por 7.400 dólares o barril, incluindo a refinaria. Como a capacidade de produção era de 100 mil barris, a Petrobrás comprou 50% por 380 milhões de dólares. Em 2006 ocorreram no mundo 11 grandes compras de refinarias, cinco delas nos Estados Unidos, a refinaria mais barata comprada nesse período foi por 3.400 dólares por barril, a mais cara, 19.500 dólares por barril, a média, 9.300 dólares, ou seja, a Petrobrás comprou abaixo da média. Por aí não pode dizer que teve prejuízo.
Uma segunda lógica. Quanto se esperava ganhar com a refinaria? No Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica, a Petrobrás projetava uma margem conservadora de2006 até 2014. Se comparas essa projeção de margem operacional, com o que efetivamente ocorreu, a refinaria gerou 760 milhões de dólares a mais do que a Petrobrás esperava. De onde vem o prejuízo então?
O prejuízo vem de um parecer feito pelo ministro José Jorge, do TCU, que foi ministro de Minas e Energia de Fernando Henrique Cardoso, foi presidente do PFL, foi candidato a vice presidente de Alckmin [Geraldo]. Ele desconsiderou o parecer dos técnicos do TCU, que por três meses ficaram dentro da Petrobrás  e atestaram que não teve erro no cálculo do preço da refinaria. Ele desconsiderou uma segunda auditoria, que também chegou à conclusão que não teve problemas, pegou um assessor de sua confiança que em 30 dias, sem ter ido uma vez à Petrobrás, cometeu vários erros de interpretação e erros técnicos. O principal problema é ele faz um conceito de prejuízo pelo que foi pago pela refinaria e abate de uma das 27 planilhas feita por uma consultoria contratada pela Petrobrás. Por esse cálculo a refinaria deveria custar 1.860 dólares por barril, não existia isso em lugar algum, a mais barata foi 3.400. Consequentemente, o conceito de prejuízo que está neste parecer é politicamente motivado, não é tecnicamente justificado.          

Outro conceito de prejuízo é o olhando para frente. Em dezembro de 2012, a Petrobrás levantou o que foi investido na refinaria, calculou o que ela poderia dar de margem no futuro, com as taxas de juros de 2012, projetou no futuro e identificou um prejuízo de 530 milhões de reais. Esse prejuízo foi lançado no resultado da Petrobrás, não tem nada a ver com o preço de compra. Em 2013 e 2014 aconteceu um fenômeno muito importante nos Estados Unidos, a produção do gás de xisto e o dateoil, que é o petróleo de reservatórios fechados, geraram uma enorme disponibilidade de petróleo leve, barato e disponível, particularmente no Texas, através do campo de Eagle 4. Isso permite que a refinaria de Pasadena seja altamente lucrativa. Então, nos últimos dois anos a refinaria foi lucrativa. Onde está o prejuízo?  É contabilidade política e não técnica.