Meu primeiro
contato com José Genoino foi no início dos anos 80, havia poucos anos que
deixara a prisão (1977), lecionava história. Fui buscá-lo no meu fusca vermelho
ano 66 para uma reunião clandestina. Simpático, falante, me deu um cordial
abraço e aperto de mão como se cumprimentasse um amigo que não via há tempos.
Falava com empolgação para o pequeno grupo de jovens militantes que carregavam
os corações ávidos de mudanças e as cabeças cheias de sonhos. Queríamos a
revolução.
Em sua
primeira campanha a deputado federal, em 1982, o ajudei, entupindo meu então
karmanguia cor de jerimum com panfletos e mais panfletos que buscava em uma
sala na Av. Dr. Arnaldo, transformada em comitê eleitoral. Numa dessas idas e
vindas para levar materiais para São Caetano, o carro resolveu acabar a
gasolina de madrugada na entrada da favela de Heliópolis. Pensei em um
guerrilheiro à noite no meio da floresta e esse exemplo de coragem foi a lufada
noturna para prosseguir.
Genoino foi
eleito na mesma legislatura que Sebastião Curió, coronel que comandou a
repressão à guerrilha do Araguaia. A mídia o tratava a eleição de Genoino como
um desses acontecimentos bizarros que de tempos em tempos acontecem na
política. E o tempo mostrou que o ex-guerrilheiro se tornou um dos melhores e
mais influentes políticos brasileiros, enquanto Curió chafurdava na lama de sua
própria história.
Genoino foi
eleito, reeleito, defendeu teses democráticas, se alinhou à ala majoritária do
PT, foi perdendo terreno nas votações para candidatos regionais ou de
categorias profissionais, mas sempre contou com expressivo número de eleitores.
Foi candidato a governo de São Paulo, abrindo mão de uma vaga certa na Câmara
dos Deputados.
Da última
vez que o entrevistei, após a derrota ao governo do Estado, me confessou que em
diversas ocasiões se deixou encantar pelo canto de sereia da mídia. Ciente de
que havia trocado, em alguns momentos, o “trabalho de base” pelos holofotes e
microfones, fazia uma autocrítica cada vez mais rara nos políticos. Confessou,
também, que não tinha perfil executivo, que preferia legislar como deputado a
ser governador do maior estado do país.
Com a posse
de Lula presidente e José Dirceu indo para a chefia da Casa Civil, Genoino, sem
mandato, assumiu a presidência do PT, cargo executivo e político. Sem perfil de
executivo de partido, foi arrastado pelo chamado “escândalo do mensalão”,
culpado por rubricar documentos. Faz parte do ônus político. Em 2006, mesmo com
o estrago midiático promovido por aqueles a quem um dia se deixou encantar, se
elegeu deputado mais vez e exerceu com dignidade seu mandado, desta vez mais
longe dos holofotes que ofuscam a visão política.
Ao longo de
toda a sua vida política Genoino não acumulou bens, não enriqueceu, o dito
mensalão não produziu nenhuma prova contundente contra sua honestidade, mesmo
assim foi condenado.
Até
irrefutável prova contrária acredito na inocência de Genoino. Sou crítico de
diversas de suas posições assumidas ao longo dos mandatos como deputado
federal, mas me solidarizo com o homem, com o pai de família e, principalmente,
com o sonho que há décadas sua emblemática figura
representa.