sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A CARTA DE AÉCIO

Depois de tentar costurar apoios expressivos - fora do PSDB - para sua pré-candidatura à Presidência da República, o governador de Minas, Aécio Neves, jogou a toalha (alguém acredita?) em carta entregue ao presidente de sua legenda, Sérgio Guerra.
Entre os elogios ao partido e argumentos alvissareiros, Aécio expõe mineiramente suas mágoas. Ele sabe que Serra, virtual candidato tucano, está longe de ser unanimidade em seu próprio partido e encontra dificuldades em costurar alianças fora do "eixo do mal" (PSDB-Demos) por conta de seu estilo, digamos, "capo" de ser. "Defendi as prévias como importante processo de revitalização de nossa prática política", diz o mineiro em sua carta de despedida, alertando para a necessidade de seu partido mudar de estratégia. Muitos ainda se lembram da foto dele, Serra, Alckmin e FHC sentados à mesa de um bom restaurante, brindando com vinho importado e decidindo quem seria o candidato em 2006.
"Defendo um projeto nacional mais amplo", diz em outro trecho da carta, referindo-se, explicitamente, ao estreitamento das alianaças e ao predomínio do PSDB paulista (nos últimos 16 anos e quatro eleições, os candidatos tucanos voaram a partir de São Paulo - FHC duas vezes, Serra e Alckmin). Seu próprio partido parece estar cheio dessa predominância e para a sociedade passa a nítida impressão da incapacidade do PSDB de criar lideranças fora de SP.
"Devemos estar preparados para a autoritária armadilha do confronto plebiscitário". Neste trecho Aécio estampa o que foi o fiasco do segundo turno de 2006 para o PSDB, quando Geraldo Alckmin não conseguia defender os governos de seu cacique FHC diante da comparação do primeiro mandato de Lula. A avaliação positiva do atual presidente cresceu no segundo mandato a tudo o que os petistas querem é uma campanha que coloque na balança os oito anos de FHC contra os de Lula.
Jogando a toalha (alguém acredita?), Aécio empurra Serra e seu partido para uma encruzilhada. O atual governador de São Paulo, que nunca termina um mandato, se vê entre duas opções: anunciar imediatamente sua candidatura, o que o tornará alvo precoce e o obrigará a entrar no ringue contra Lula; protelando a decisão para março, como é sua intenção, Serra deixa o palco livre para Dilma do Lula se apresentar à sociedade e costurar alianças com Deus e o demônio em terras de sol e garoa.
Enquanto não sabe qual estratégia tomar, Serra elogia publicamente a atitude do governador mineiro; no isolamento de seus aposentados, olha no espelho, passa a mão pela careca para tirar o suor e com os caninos à mostra, pensa: Aécio never.

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