sábado, 19 de abril de 2008

O estranho mundo da publicidade


Circula pela TV uma inserção publicitária que contra-argumenta a proposta de se proibir propaganda de cerveja, afirmando não ser a dita linfa responsável por acidentes de trânsito, crimes, brigas de casais e que tais. A responsabilidade seria, vejam só, de quem bebe.
Saindo de um óbvio para outro, a função da publicidade é vender um produto, aumentar sua venda, transformar uma marca em um conceito e por aí vai. Sob essa lógica do lucro como senhor absoluto, ela precisa gerar novos consumidores, criar mecanismos factuais (sorteio de algum bem material, por exemplo) ou psíquico-culturais (patrocinar a seleção de futebol, ainda exemplo). Em outras palavras, a publicidade é a mãe dos consumidores. Quem pariu Mateus...
Dr. Frankstein foi condenado por criar o monstro à semelhança do homem. A publicidade de cerveja tem, sim, parcela importante de responsabilidade em diversas mazelas brasileiras e a exemplo da de cigarro, deve ser banida: a sociedade tem o direito e o dever de decidir sobre o que quer ver.
O debate a respeito da proibição de propaganda de cerveja encontra-se na Câmara Federal, que analisa a Medida Provisória 415/08, que proíbe a venda de bebidas alcoólicas nas margens de rodovias federais.

O que a Igreja Católica acha?
A igreja trava uma nova cruzada em defesa da vida do que sequer nascido é, no caso das pesquisas com células-tronco, mas cala-se diante de um fato que pode ter passado despercebido para alguns. No jingle de uma certa marca de cerveja, Zeca Pagodinho canta “logo cedo me levanto, me benzo e vou trabahar!”. Oops, “me benzo”? O ato de se benzer faz parte da liturgia católica, assim, a dita publicidade é voltada para esse público, que por acaso se constitui na maioria do povo brasileiro.
Vamos lá: uma empresa de cerveja contrata um cantor popular para dizer aos católicos: bebam cerveja! E aí, CNBB? Fazer lobby, protestar, usar a influência da Igreja contra as pesquisas com embriões, que podem salvar muitas vidas, pode... mas e contra a sanha publicitária sobre os católicos? Alguém quer levar o rebanho do Senhor a consumir esse líquido que induz a pecados e crimes, que provavelmente é fermentado na baba do diabo e a Igreja Católica não solta sequer uma nota a respeito?

Um comentário:

Anônimo disse...

Caríssimo,
faço coro ao seu protesto. Já enviei e-mail à Abap registrando minha indignação. Isso é corporativismo. O setor está pensando com o estômago e não com o cérebro.

Abraço,

Diógenes