Dia 9 de outubro completou 50 anos da
morte do revolucionário Ernesto Chê Guevara. Argentino de nascimento, cidadão
do mundo, comandante da revolução cubana, Chê foi assassinado na Bolívia quando
tentava organizar a guerrilha naquele país.
Seu nome, seus ideais e sua estampa se
tornaram símbolos mundiais de gerações que lutam por liberdade e utopia.
Entretanto, em 1969, dois anos após a
sua morte, eis que Hollywood decide produzir um filme sobre a “vida” de Chê
Guevara. Por “Hollywood” entenda-se a CIA. A revolução cubana completava dez anos,
se fortalecia apesar de todo o boicote mundial (exceto da União Soviética e
aliados), e representava uma ameaça direta aos projetos de controle dos EUA
sobre o restante das Américas.
Ao mesmo tempo, a morte de Chê Guevara
o elevara à condição de mito e herói mais do tivera em vida. Morto o homem, o império
precisava matar o mito e tentou fazê-lo da forma que havia aprendido com Joseph
Goebbels, ideólogo do nazismo que “ensinou” que uma mentira repetida mil vezes
vira verdade.
O maior erro da carreira de Omar Sharif. Segundo ele próprio |
Um vigoroso orçamento (para a época) de
US$ 3 milhões, um elenco com atores de primeira, como o egípcio Omar Sharif
(Chê) e Jack Palance (Fidel), e direção de Richard Fleischer, veterano diretor que
um ano antes havia dirigido The Boston Strangler (O homem que odiava as
mulheres), foram convocados para produzir a película “Chê!” (que no Brasil
ainda ganhou o péssimo complemento de “a causa perdida”).
Jack Palance é um Fidel patético |
Para tentar dar maior veracidade ao
enredo, a narrativa mescla a forma de documentário com ficção. Na película, um
patético Fidel Castro, eternamente de charuto na boca, que não sabe bem o que
está fazendo no filme, na revolução e na vida, e um Chê Guevara frio e
assassino, que coloca seu sadismo e descaso pela humanidade a serviço de seus
interesses revolucionários. Não faltam mortes desnecessárias (para a
revolução), hordas de “simples cubanos” sendo enviados para o paredão (fuzilamento)
por ordem de Chê (enquanto Fidel, sempre de charuto na boca, está embriagado
pelo poder), estupros e “depoimentos verídicos” de cubanos que afirmam odiar
Chê e todo seu legado.
E assim se desenrola o filme criando
uma caricatura do comande Chê até culminar na grotesca última cena em que ele é
capturado e antes de ser executado recebe a visita de um camponês boliviano,
que diz que a vida só piorou depois que o comandante quis exportar sua
revolução para o continente. Abatido, Chê aceita sua sentença como prova de seu
fracasso mundial. Nada mais ridículo.
Cena em que Chê assina autorizações para fuzilamento em massa sob olhares consternados da igreja e populares |
Antes de o filme estrear, em 1969,
Omar Sharif concedeu várias entrevistas afirmando que admirava Ernesto Guevara
(sem concordar, necessariamente com seus métodos). Uma delas pode ser acessada aqui (em inlgês).
A recepção do público, no entanto,
fez Sharif ter a exata dimensão da roubada em que havia embarcado. Em Paris,
uma sala de cinema chegou a ser depredada e incendiada após a exibição do
filme.
Em 2007, Omar Sharif admitiu
publicamente que aquele foi o pior filme de sua vida e que toda a história e o
roteiro foram manipulados pela agência estadunidense de inteligência. "Eu
exigi fazer um filme que não tivesse um tom fascista", lembra Sharif, em
entrevista à Agência Efe. A CIA estava por trás, queria fazer um filme que
agradasse aos cubanos de Miami e eu só me dei conta disso no final", afirmou
que ator que classificou o filme como um “produto fascista”.
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