quarta-feira, 11 de outubro de 2017

O PIOR CHÊ DE TODOS OS TEMPOS


Dia 9 de outubro completou 50 anos da morte do revolucionário Ernesto Chê Guevara. Argentino de nascimento, cidadão do mundo, comandante da revolução cubana, Chê foi assassinado na Bolívia quando tentava organizar a guerrilha naquele país.

Seu nome, seus ideais e sua estampa se tornaram símbolos mundiais de gerações que lutam por liberdade e utopia.

Entretanto, em 1969, dois anos após a sua morte, eis que Hollywood decide produzir um filme sobre a “vida” de Chê Guevara. Por “Hollywood” entenda-se a CIA. A revolução cubana completava dez anos, se fortalecia apesar de todo o boicote mundial (exceto da União Soviética e aliados), e representava uma ameaça direta aos projetos de controle dos EUA sobre o restante das Américas.

Ao mesmo tempo, a morte de Chê Guevara o elevara à condição de mito e herói mais do tivera em vida. Morto o homem, o império precisava matar o mito e tentou fazê-lo da forma que havia aprendido com Joseph Goebbels, ideólogo do nazismo que “ensinou” que uma mentira repetida mil vezes vira verdade.

O maior erro da carreira de Omar Sharif. Segundo ele próprio
Um vigoroso orçamento (para a época) de US$ 3 milhões, um elenco com atores de primeira, como o egípcio Omar Sharif (Chê) e Jack Palance (Fidel), e direção de Richard Fleischer, veterano diretor que um ano antes havia dirigido The Boston Strangler (O homem que odiava as mulheres), foram convocados para produzir a película “Chê!” (que no Brasil ainda ganhou o péssimo complemento de “a causa perdida”).

Jack Palance é um Fidel patético
Para tentar dar maior veracidade ao enredo, a narrativa mescla a forma de documentário com ficção. Na película, um patético Fidel Castro, eternamente de charuto na boca, que não sabe bem o que está fazendo no filme, na revolução e na vida, e um Chê Guevara frio e assassino, que coloca seu sadismo e descaso pela humanidade a serviço de seus interesses revolucionários. Não faltam mortes desnecessárias (para a revolução), hordas de “simples cubanos” sendo enviados para o paredão (fuzilamento) por ordem de Chê (enquanto Fidel, sempre de charuto na boca, está embriagado pelo poder), estupros e “depoimentos verídicos” de cubanos que afirmam odiar Chê e todo seu legado.   

E assim se desenrola o filme criando uma caricatura do comande Chê até culminar na grotesca última cena em que ele é capturado e antes de ser executado recebe a visita de um camponês boliviano, que diz que a vida só piorou depois que o comandante quis exportar sua revolução para o continente. Abatido, Chê aceita sua sentença como prova de seu fracasso mundial. Nada mais ridículo.
Cena em que Chê assina autorizações para fuzilamento
em massa sob olhares consternados da igreja e populares

Antes de o filme estrear, em 1969, Omar Sharif concedeu várias entrevistas afirmando que admirava Ernesto Guevara (sem concordar, necessariamente com seus métodos). Uma delas pode ser acessada aqui (em inlgês).

A recepção do público, no entanto, fez Sharif ter a exata dimensão da roubada em que havia embarcado. Em Paris, uma sala de cinema chegou a ser depredada e incendiada após a exibição do filme.


Em 2007, Omar Sharif admitiu publicamente que aquele foi o pior filme de sua vida e que toda a história e o roteiro foram manipulados pela agência estadunidense de inteligência. "Eu exigi fazer um filme que não tivesse um tom fascista", lembra Sharif, em entrevista à Agência Efe. A CIA estava por trás, queria fazer um filme que agradasse aos cubanos de Miami e eu só me dei conta disso no final", afirmou que ator que classificou o filme como um “produto fascista”. 

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