sexta-feira, 4 de agosto de 2017

QUEM ESPERAR POR BATER DE PANELAS VAI FICAR DE BARRIGA VAZIA





Em muitos posts nas redes sociais ou em conversas com amigos leio/ouço a reclamação sobre a incoerência de parte da classe média que se cala diante da enxurrada de denúncias e provas de corrupção contra o atual governo; esta mesma parcela da população que se mostrava tão raivosa contra a corrupção do antigo governo e contra as "pedaladas" de Dilma Rousseff, motivo alegado para seu impedimento da Presidência do país.

Ora, a campanha midiática capitaneada pela Rede Globo, que levou milhões às ruas entre 2013 e 2016, pedindo a queda do PT, arquiteta com maestria de deixar Goebbels invejoso, tinha a corrupção apenas como pretexto palatável aos anseios higienistas. O ódio demonstrado nas ruas - travestido de combate à corrupção - era de classe: uma parcela da população que se inconformava de ver os "de baixo" subindo e os "de cima" subindo mais ainda. "Filho de pobre na mesma escola que meus filhos?", "sentar ao lado de um pé rapado no avião?", "Preto, ops, é racismo, neguinho afrodescendente, cursando faculdade por conta de cotas e não de 'mérito"? Que governo desgraçado é esse que quer impor, da noite para o dia, uma lógica diferente da que o país vive há cinco séculos?  

Ao ser exposta a seus próprios preconceitos, essa classe média (e aqui uso o termo de maneria genérica, houve muitos desvalidos sociais que embarcaram ideologicamente nesse discurso) - apadrinhada pela mídia, pelos tucanos e pelo empresariado urbano e rural - só precisava de um mote confortável para ir às ruas expor sua ira contra o petismo, símbolo de "tudo de ruim" que ocorria - corrupção, crise econômica, empoderamento feminino e de minorias, programas sociais, respeito humano, ciclovias, blá, blá, blá. 

Quando os padrinhos dessa classe média - Fiesp, ruralistas, psdb, mídia - deixaram de ter interesse político de incentivar a boiada, cessaram os barulhos das panelas.

É mais um erro a esquerda se sentir refém do silêncio da classe média, ela nunca foi às ruas contra corrupção - seria suicídio - ela se manifestou contra a ascensão dos "de baixo", apoiou um golpe que entende esse recado e está "recolocando as coisas em ordem": lucro para os grandes, privilégios para os do meio, migalhas para os de baixo.

Caros amig_s de esquerda: esqueçam essa classe média e continuem a fazer o que se deve: protestar nas ruas e organizar os desvalidos, não pela lógica do consumo, mas pela da cidadania.      


Um comentário:

Dú Badaró disse...

A questão abordada de forma parcial pelo colega, peca em alguns aspectos, primeiro: nunca houve problemas na questão do pobre andar de avião ou estudar nas escolas particulares. O problema sempre foi o discurso politico de que esse crescimento era real. A questão sempre foi o excesso de estado criado numa circunstancia favorável da economia mundial (1º mandato de Lula) como se fosse algo perpétuo, Essa politica adotada por Mantega, após uma politica extremamente competente de Palocci permitiu que o Pobre estudasse na mesma escola e andasse de avião endividando-se enquanto o sistema publico dava um diplomade segundo grau à pessoas que não tinham a minima idéia de como calcular juros compostos. A rapidez da derrocada social (muito devido a inflação que Dilma insistia que não era importante controlar, "não temos meta") so vem mostrar que as pessoas que "sairam da pobreza" nunca o fizeram em realidade.