segunda-feira, 7 de março de 2016

Democracia se defende nas ruas



O Brasil viveu, na sexta-feira, um momento histórico, comparado aos grandes acontecimentos que ditam os rumos do país. De maneira coercitiva, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi levado de sua casa para depor na Polícia Federal. A justificativa foi a mais estapafúrdia possível: os agentes alegaram que o uso dessa truculência seria necessária para evitar “tumultos”, por parte dos que defendem e dos que atacam o ex-presidente.
No entanto, os mesmos agentes não souberam explicar por que a notícia da operação já se encontrava nas mãos da grande mídia, em mais um vazamento orquestrado.
Ficou para todos a sensação de que tal operação não passou de mais um lance de efeito da Operação Lava Jato, com o intuito de constranger Lula e criar um clima de que o ex-presidente poderá ser preso a qualquer momento.

O que está por trás de toda essa operação?
Que fique bem claro a quem ainda não entendeu: não se trata de uma luta entre honestos e corruptos, bons e maus, o que assistimos é a revolta de uma elite, que utiliza de todos os seus mecanismos – legislativo, judiciário, mídia e partidos – para derrubar um governo eleito legitimamente, mas que não consegue ter força política para combater o ataque.

Sem maioria no Congresso, com muitos problemas de articulação política e enfrentando grave crise econômica, o governo Dilma Rousseff se tornou um refém dos interesses de opositores e “aliados”.

O objetivo não é “apenas” tirar o mandato de Dilma Rousseff, o que a elite brasileira protagoniza é um dos mais acintosos ataques às conquistas da classe trabalhadora.

A partir das chamadas “pautas bomba”, a Câmara, capitaneada pelo agora réu por corrupção Eduardo Cunha (PMDB-RJ), promove dia após dia a desconstrução do estado democrático e soberano.

Há mais de 1.800 projetos versando sobre questões de mulheres, mas nenhum entra em votação se contiver o termo “gênero”. Direitos civis estão paulatinamente retrocedendo, direitos trabalhistas estão sendo vilipendiados, como no caso do projeto que escancarou as terceirizações – e que muito em breve a classe trabalhadora irá sentir os efeitos.

Com a “cortina de fumaça” de criar uma legislação antiterrorismo, a Câmara discute projetos que criminalizam os movimentos sociais.

No Senado, na mesma toada, apenas na semana passada estava em pauta o PLS 131, que abre para multinacionais a operação dos campos de pré-sal e PLS 555, que torna todas as empresas públicas em sociedades anônimas, decretando, praticamente, a privatização de todo o Estado brasileiro.

Reduzir direitos civis para agradar bancadas evangélicas e conservadoras, reduzir direitos trabalhistas para iniciar um novo ciclo de acumulação de capital financeiro, reduzir direitos sociais e criminalizar movimentos para não ter resistência, e, acima de tudo, acabar com a consciência da necessidade de transformação social, para que a governança de esquerda leve mais um século para novamente assumir outro governo, esse é o projeto que está em curso.

Essa elite não consegue conceber que Lula ou outro representante das forças populares seja novamente eleito, porque cada avanço social é um sinal de alerta contra os privilégios de uma minoria que ainda sobrevive agarrada a preconceitos.

Somos a favor de que todas suspeitas de corrupção sejam apuradas e seus culpados penalizados de acordo com a lei, mas não é isso que ocorre hoje no país.

O judiciário e a mídia escolheram seus alvos, e atuam juntos para atingir seus objetivos. A mesma Operação Lava Jato tem em seu poder denúncias envolvendo graduados políticos da oposição, como o senador Aécio Neves (PSB-MG); pesa contra o ex-presidente Fernando Henrique sérias acusações de corrupção, mas nem mídia, nem judiciário estão interessados em investigar e trazer à luz essas denúncias.

Contra esse sombrio cenário, a Frente Brasil Popular, que congrega dezenas de entidades sindicais e sociais, convocou para o dia 18 uma grande manifestação nacional. Em São Paulo ela irá ocorrer na Avenida Paulista.

Pela velocidade que o golpe assumiu, talvez seja até uma data longínqua, mas essa é e será uma luta permanente. Vamos às rua não para defender um governo, não para defender uma pessoa, mas para defender direitos conquistados (que estão sendo arrancados da população sem ela perceber) e a democracia, palavra tão vital e neste momento tão frágil.

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