quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Fórum Social Mundial: Mudamos a relação do Estado com os movimentos sociais, afirma Lula


Lula faz balanço de seu mandato, pede solidariedade ao Haiti e diz que Davos não tem o glamour que o sistema financeiro achava ter

(Norian Segatto, desde Porto Alegre) O segundo dia do 10 Fórum Social Mundial foi marcado pela presença do presidente Lula, que discursou por 56 minutos para uma plateia de aproximadamente 3 mil pessoas, que lotava o Gigantinho, estádio do Internacional.
Representando o movimento sindical, o presidente da CUT Nacional, Artur Henrique, iniciou sua fala lembrando que em seus 10 anos, o Fórum conseguiu unir a diversidade de pensamento em torno de bandeiras comuns, como a luta contra a Alca e o FMI. Artur destacou, também, a importância da eleição de Lula no cenário da América Latina, afirmando que ela “evitou o golpe na Venezuela e abriu caminho para outros governos democráticos na América Latina”. Referindo-se à crise, o presidente da Central alertou que ela não terminou e que é necessário aprofundar as mudanças no Brasil, citando como exemplo a luta das centrais pela redução da jornada de trabalho. “Temos o desafio de construir um modelo de desenvolvimento ambientalmente sustentável e mudar o modo de produção e consumo, para isso temos de impedir o retrocesso e avançar na construção da unidade dos movimentos sociais rumo ao socialismo”, finalizou Artur Henrique.
A segunda oradora da noite, a ativista uruguaia e ex-presa política, Lilian Celiberti, afirmou ter uma relação intensa com Porto Alegre, cidade em que ocorreu seu sequestro, em 1978, pelas forças de repressão da ditadura, na chamada Operação Condor, cidade, também, que hospedou a primeira edição do Fórum Social Mundial. Lilian fez um apelo para a importância da luta contra a criminalização dos movimentos sociais, em referência ao atual debate sobre direitos humanos e instalação da Comissão da Verdade. “Um torturador não pode ser visto da mesma forma de quem lutou pela liberdade e democracia”, afirmou, arrancando aplausos do público.
Sob gritos de “Lula, guerreiro do povo brasileiro”, o presidente da República afirmou que o Fórum Social está “mais maduro” do que em 2003, quando participou pela primeira vez como presidente do Brasil. “Naquela ocasião, como agora, vim para Fórum Social e vou para Davos (no Fórum Econômico Mundial), mas lá, não existe o glamour que o sistema financeiro internacional achava que tinha, porque foi esse sistema o responsável pela maior crise mundial dos últimos tempos”, afirmou.
Ao fazer um balanço de seus dois mandatos, Lula disse “haver uma diferença fundamental entre o que se sonha a vida inteira em fazer e o que consegue realizar quando está no governo”, mesmo assim, considerou que o grande mérito de seus governos foi mudar a forma como o estado se relaciona com os movimentos sociais. Para provar, citou a realização de 60 conferências dos mais diversos ramos, a abertura do Palácio da Alvorada para receber líderes sem terra, deficientes visuais, portadores de hanseníase, entre outros. “Pela primeira vez esses segmentos sociais tiveram acesso às dependências do Palácio e puderam levar suas reivindicações a um presidente da República”.
Sem perder a chance de cutucar seus antecessores, Lula afirmou que quando participou de Davos pela primeira vez, em 2003, o mundo olhava para ele com desconfiança e descrença de que alguém sem instrução formal pudesse governar um país como o Brasil. “Mas foi um torneiro mecânico quem mais fez universidades neste país”, e completou: “de 1909 a 2003 foram feitas 109 escolas técnicas, em oito anos de mandato vamos entregar 214 escolas”.
Lula ainda citou as dificuldades do encontro de Copenhague (ocorrido no final de 2009) de se chegar a um acordo sobre as emissões de CO2. “Os Estados Unidos e a Europa queriam jogar a responsabilidade sobre a China, ora um país que polui o planeta a 200 anos tem que ter uma responsabilidade maior do que quem poluiu a dois, a dez anos”, afirmou o presidente, destacando que “cada país que trate de limpar a sua sujeira, o Brasil está fazendo a sua parte”.
Ao se referir ao Haiti, o presidente defendeu a presença das tropas brasileiras naquele país, mas não polemizou sobre a ostensiva presença de militares dos Estados Unidos, destacando, apenas a tese da soberania de cada povo. Lula conclamou os participantes do Fórum Social a se engajarem na luta pela recuperação do país devastado pelo terremoto. “O Haiti foi o primeiro país negro a se tornar independente, depois sofreu ataques de norte-americanos, franceses e ingleses, o Brasil ensinou ao mundo como manter uma força de paz sem ferir a soberania do povo haitiano e eu acho que de todas as resoluções que este Fórum tomar, a mais importante é que cada um de nós saiamos daqui com o compromisso de ajudar a reconstruir o Haiti, de ajudar aquele povo e é isso que o governo brasileiro está fazendo”, finalizou o presidente.

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