segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Baixa escolaridade explica pobreza do meio rural

Fonte: Agência Notisa jornalismo científico

No campo, quase metade das pessoas com mais de 25 anos tem apenas o ensino primário. Vinte e três por cento desta faixa estiveram na escola apenas durante um ano de suas vidas.
De acordo com levantamento publicado na Revista de Economia e Sociologia Rural, a educação é o fator que explica a maior parcela da desigualdade de rendimentos nas atividades não-agrícolas e no meio rural. O trabalho foi realizado por Marlon Gomes Ney, Professor do Centro de Ciências do Homem da Uenf e Rodolfo Hoffmann, Professor do Instituto de Economia da Unicamp, e veiculado na edição do primeiro trimestre de 2009.
Os autores afirmam que, para obtenção dos dados divulgados, foram empregadas “informações coletadas na pesquisa amostral do Censo Demográfico de 2000” e que “na coleta das informações do censo o IBGE utilizou dois modelos de questionário. O primeiro foi o questionário básico, contendo perguntas referentes às características investigadas para toda população. O segundo questionário foi aplicado apenas nos domicílios selecionados para a realização de uma pesquisa amostral, na qual, além das variáveis investigadas no questionário básico, procurou-se obter outras informações sobre características dos domicílios e de seus moradores referentes a temas como escolaridade, trabalho e rendimento”, elementos que, segundo os pesquisadores, foram fundamentais para o estudo.
Eles comentam que "no Brasil, dados recentes publicados na PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) sobre a agricultura não só mostram uma queda significativa no nível de emprego durante a última década, mesmo com o forte crescimento da produção primária, como também uma desigualdade de renda elevada e resistente à queda (Barros et alli , 2004
)”. Eles acrescentam que “comparando as informações disponíveis nos trabalhos de Langoni (1973), Fishlow (1973), Hoffmann (1991 e 2001), Corrêa (1998) e Ney e Hoffmann (2003), é possível acompanhar as mudanças no perfil da distribuição dos rendimentos agrícolas, desde 1960. Pode-se observar um extraordinário processo de concentração da renda na agricultura, entre 1970 e 1980, o qual elevou o índice de Gini de 0,415 para 0,543, um acréscimo de 31%”.
Entre os resultados do levantamento, Marlon e Rodolfo revelam: “os níveis de escolaridade e renda no meio rural brasileiro são bem menores do que no meio urbano. Enquanto nas áreas urbanas o rendimento médio está estimado em R$ 377,10, nas áreas rurais o valor é de R$ 148,70”. Das pessoas com 25 anos ou mais de idade, vivendo no meio rural, dizem os pesquisadores, “26,3% têm escolaridade inferior a um ano e 46,7% apenas o ensino primário”, e completam: “Quase 75% da população adulta, portanto, sequer tem o primeiro ano do antigo ensino ginasial. No meio urbano, o nível de escolaridade das pessoas é bem mais alto e heterogêneo”.
Os autores argumentam que “é a educação o fator que explica, isoladamente, a maior parcela das disparidades de rendimentos do trabalho em toda a economia rural. Mesmo nas áreas rurais oficiais, onde a participação da agricultura na renda é maior do que a dos demais setores de atividade, a contribuição marginal da escolaridade para a soma de quadrados de regressão de 14,5% é mais do que o dobro do valor da contribuição de 6,5% da posição na ocupação, variável utilizada como proxy do capital físico”. Concluindo, eles afirmam que “o problema é que a baixíssima escolaridade da população mais pobre influenciará para que o desenvolvimento das atividades não-agrícolas aconteça sem a redução da concentração da renda rural, atenuando seus efeitos positivos na diminuição da pobreza”.

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