sexta-feira, 5 de junho de 2009

DIPLOMA PARA JORNALISTA E O CU DA CUT

O Supremo Tribunal Federal incluiu na pauta da sessão de quarta-feira, dia 10 de junho, o julgamento do Recurso Extraordinário RE 511961, que questiona a obrigatoriedade da formação universitária em Jornalismo para o exercício da profissão. Essa é uma discussão antiga na qual o corporativismo ofusca alguns aspectos que considero devam ser apontados para a reflexão.
Sou formado em jornalismo há quase 20 anos e desde calouro ouço sobre a "importância" do diploma específico para atuar na área, dos "perigos" de se ter profissionais atuando sem o devido diploma e coisa e tal. No entanto, pouco se questiona que tipo de profissional tem sido formado por essas escolas.
Recentemente precisei selecionar estagiário de jornalismo para trabalhar em um sindicato cutista. De mais de 20 currículos, selecionei oito, levando em conta critérios como o número de erros de português apresentados nos ditos CVs. Dos entrevistados, todos quartanistas de escolas particulares de São Paulo, apenas um tinha uma vaga noção do que era CUT e nenhum soube me dizer o que significava a sigla. Caros leitores, uma pessoa que daqui a seis meses vai se considerar jornalista profissional não saber dizer o que significa três letrinhas que aparecem constantemente nos jornais é, no mínimo, muito preocupante.
Diálogo travado com uma das candidatas:
Pergunta: Você está se candidatando a uma vaga de estágio em um sindicato, você sabe o que faz um sindicato?
Resposta: Ah!, mais ou menos, ele ajuda o trabalhador né...?
- Mais ou menos isso. E CUT, você sabe o que é?
- Isso não sei, não!
- Mas a sigla, pelo menos, você sabe o que significa?
- Ah!, o T deve ser de trabalhista, trabalhador, né?...
- E o CU?
A moça, rubra como uma bandeira flamenguista, não soube responder
- Tá, uma pergunta mais fácil: quais jornais você lê?
- Ah!, às vezes entro no site do UOL.
Se sentir informado lendo as manchetes do sítio UOL é de chorar!
Aí partimos para uma questão que deveria preceder ao debate do canudo. Qual profissional as escolas têm formado? Me debato com essa questão desde os tempos de estudante, quando promovíamos forte resistência às tentativas de mudança de grade curricular. Na época, já começava a vingar a tese de que as escolas deveriam preparar técnicos para o mercado em vez de pessoas com massa crítica cinzenta. Paradoxalmente, quanto mais a universidade tenta aproximar suas disciplinas das técnicas da imprensa comercial, menos preparado torna esse profissional.
Sem formação humanista, sem conhecimento de história, filosofia, sem formação ética entre outros "detalhes", as escolas estão a formar um bando de burocratas que irão reproduzir sem qualquer questionamento o que de pior tem o jornalismo. E para isso não precisa de diploma mesmo.
A Fenaj (Federação dos Jornalistas) e os sindicatos da categoria tratam esse tema sob óticas enviezadas e acabam fortalecendo o coro dos corporativistas. Quero ler matérias feitas com rigor na apuração, com independência, com senso crítico, sejam elas escritas por um oriundo das cadeiras de faculdade de jornalismo, por um sociólogo ou arquiteto.
A melhor maneira de garantir que quem se forme tenha prioridade no exercício da profissão é investir contra o baixo nível das escolas de Comunicação, é criar um conselho federal de jornalismo e lutar contra a mediocridade geral da imprensa tupiniquim. O diploma é mero detalhe diante de coisas tão mais importantes. Ou continuaremos a formar "jornalistas" que não sabem o que é o CU da CUT.

3 comentários:

Anônimo disse...

Você seleciona currículos para estagiários trabalharem? O estágio deve ter caráter pedagógico, estudantes não são força de trabalho barata.
Ninguém é obrigado a conhecer o cu da CUT. A sua lógica sobre o fim da exigência do diploma, que o problema são os cursos, lembra-me aquele ditado que diz que jogaram fora a água suja e o bebê.
Agildo

Susanices disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Susanices disse...
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