quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Nenhuma indenização paga essa dor







Família de trabalhador morto na Petrobrás dia 4 de janeiro, participa de ato ocorrido nesta quinta, 15 de janeiro, em memória de William Vasconcelos e por mais segurança

FUP e Conselho Deliberativo realizam manifestação no Aeroporto de Vitória. Como represália, empresa tenta não embarcar trabalhadores que participaram do ato, mas esbarra na resistência dos sindicatos e é obrigada a negociar.

A diretoria e o Conselho Deliberativo da FUP promoveram nesta quinta, dia 15, no Aeroporto de Vitória (ES), ato em homenagem ao trabalhador Willian Vasconcelos, morto no dia 4 em acidente na Plataforma P-34. A manifestação fez parte da Semana de Mobilização pela Vida, que cobrou do Sistema Petrobrás mais segurança e mudanças na política de SMS. No dia 2 de setembro, o presidente Lula inaugurou, dali, a primeira extração simbólica do pré-sal. Três meses depois, a P-34, que opera no campo de Jubarte, no Espírito Santo, faria a primeira vítima fatal de 2009 no Sistema Petrobrás.
O diretor de saúde da FUP, Simão Zanardi, abriu o ato lembrando que o acidente na plataforma já era previsível e alertou os trabalhadores para cuidarem do maior patrimônio que possuem: a própria vida. “É necessário que cada um faça o seu papel, não se arriscando a executar uma tarefa em que possa haver qualquer risco à integridade física”, conclamou Simão. Ele relatou brevemente certos detalhes do acidente e, emocionado, dirigiu-se aos familiares de Willian para informar que por todo o país ocorreram atos de protesto à empresa e em solidariedade à dor dos familiares. “Willian era caldeireiro, sua função naquele domingo à noite era tirar 12 parafusos, ele havia tirado 10, faltavam dois quando ocorreu o acidente”, relatou. Dona Edna, tia de William, chorou durante quase todo o ato.
Representando o Sindipetro MG, o petroleiro Sérgio afirmou que a Petrobrás só pensa na produção, sem se importar com a segurança de seus funcionários. Paulo Neves, da oposição do Pará, realçou a necessidade de se travar uma ampla luta por mais segurança e mostrar a capacidade do petroleiro de se indignar com situações como a que vitimou o caldeireiro Willian, de 28 anos.
Silvanei, do Sindicato de SC-PR, reforçou a tese de que se não ocorrer mudanças na política de SMS novos acidentes irão ocorrer. “Isso não é uma fatalidade, é um acidente construído socialmente devido às condições de trabalho e segurança”, afirmou. Acácio, do Sindipetro AM denunciou que muitos trabalhadores, principalmente os terceirizados, operam com EPIs (Equipamento de Proteção Individual) danificados e exortou por mudanças na política de segurança.
Alexandre, do RN, usou o código de ética da empresa para reafirmar a dicotomia entre o discurso e a prática da Petrobrás. “Não podemos parar neste ato, temos de continuar o movimento”, disse. Lourenzon, do Sindipetro PE-PB, afirmou que não se trata apenas de incompetência dos responsáveis pela emissão de PT (Permissão de Trabalho), mas de falta de vontade política da empresa de investir em segurança e pediu a punição dos responsáveis. O companheiro Claudio, do NF, reafirmou a importância da luta por mais segurança. “Não adianta buscar apenas as conquistas econômicas se não temos segurança”, afirmou. Ao falar pelo Sindipetro BA, o companheiro Machado recordou da investigação do acidente ocorrido em Alagoas, o qual concluiu pela responsabilidade de dois trabalhadores e voltou a conclamar os trabalhadores a não executar atos inseguros.


Danilo, do Unificado de SP, não poupou adjetivos para afirmar que a Petrobrás cometeu assassinato e que faz uma opção política pela insegurança. “Isso só vai acabar quando colocarmos um gerente na cadeia”. O companheiro Zé Maria, do NF, relatou o histórico de problemas recentes ocorridos na P-34. “Uma comissão apurou diversas falhas na segurança da plataforma, que só por sorte não se tornou outra P-36; eu levei o relatório pessoalmente para o Estrela e a única providência que ele tomou foi transferir os trabalhadores que participaram das investigações”, afirmou Zé Maria.
O coordenador da FUP, Moraes, finalizou o ato reafirmando que o acidente não foi obra da fatalidade, mas dos erros da política de SMS, e que os gerentes e responsáveis serão acionados judicialmente. “Não aceitamos que a produção do pré-sal, que defendemos como patrimônio do povo brasileiro, seja explorado à custa do sangue de trabalhadores”, concluiu.

Provocação
Desde o início do ato, dirigentes da FUP alertaram a empresa para não liberar o embarque para a Plataforma sem os trabalhadores que participavam do ato. Fazendo ouvidos moucos e procurando se confrontar com as entidades sindicais, representantes da empresa autorizaram a partida do helicóptero sem a presença de alguns companheiros que participavam do ato.
Imediatamente após o final da manifestação, os dirigentes ocuparam o saguão da Petrobrás no aeroporto de Vitória e exigiram o embarque daqueles trabalhadores. Por cerca de duas horas o saguão foi ocupado pacificamente pelos petroleiros, enquanto a direção da FUP negociava com a gerência da Plataforma alternativas para embarcar os trabalhadores. O coordenador Eliseu alegou problemas burocráticos para embarcar os trabalhadores, no que foi imediatamente confrontado. “Quando é do interesse da Petrobrás, muda-se todo mundo, a qualquer hora, sem qualquer aviso”, questionou um dos trabalhadores.Ao final das negociações, o gerente geral da P-34, Barreto, se comprometeu a embarcar imediatamente os trabalhadores, colocando fim à provocação da Petrobrás, que quis responder com truculência a um ato em favor da vida.

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