quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Massacre na CSN completa 20 anos




O ano era 1988, o processo de redemocratização do país parecia não ter volta, havia pouco mais de um mês que a nova Constituição fora promulgada, regulamentando o direito de greve entre diversos outros direitos históricos. Naquele clima de tênue liberdade, cerca de 20 mil metalúrgicos cruzaram os braços e ocuparam a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda, exigindo correção de salários solapados pela inflação.
Em 9 de novembro, o exército se posicionou para cumprir um mandato de reintegração de posse da CSN. Militares com rostos pintados para a guerra começaram a atirar contra os grevistas, que resistiam com paus e pedras. Os relatos posteriores mostram que não houve uma batalha, houve caça. Trabalhadores correndo para dentro da empresa para se esconder e cerca de 2 mil militares armados de bombas e fuzis atirando em quem encontravam pela frente.
O resultado da caçada foi o assassinato de três trabalhadores. William Fernandes Leite, de 23 anos, foi baleado no pescoço – estava longe do centro do conflito; Walmir Freitas de Monteiro, 28 anos, teve o tórax atravessado por uma bala de fuzil. O corpo de Carlos Augusto Barroso, 19, foi encontrado com sinais de espancamento e afundamento de crânio.

Prêmio aos assassinos
A população de Volta Redonda, palco dos acontecimentos, saiu às ruas em protesto. Em diversos cantos do país ocorreram manifestações exigindo punição aos culpados; a tragédia ocupou os noticiários internacionais, mobilizou entidades de direitos humanos, mas nada aconteceu.
O Estado não foi responsabilizado pelos crimes. Nenhum militar depôs na Justiça comum, o inquérito conduzido na esfera militar não apontou culpados. Pelo contrário. Em 1999, o general José Luís Lopes da Silva, que comandou o massacre, foi nomeado ministro do Superior Tribunal Militar, pelo então presidente Fernando Henrique.
Lopes da Silva se aposentou em 2004 com polpudos rendimentos, enquanto as famílias dos três operários receberam uma parca indenização a título de “acidente de trabalho”.
Nas comemorações do 1º de Maio do ano seguinte, uma obra de Oscar Niemeyer foi inaugurada em Volta Redonda em homenagem aos três trabalhadores. Menos de 24 horas depois ela estava no chão, vitimada por um atentado a bomba, que também nunca foi investigado com seriedade.

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