sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Outro assassinato na luta pela reforma agrária


No dia 21 de outubro, por volta das 13h30, após a reocupação de uma área da transnacional Syngenta Seeds ocupada por integrantes da Via Campesina, mais de 40 pistoleiros fortemente armados, sob a fachada de empresa NF Segurança, invadiram o Acampamento Terra Livre e executaram a queima roupa Valmir Mota de Oliveira, o Keno. Os feridos, Gentil Couto Viera, Jonas Gomes de Queiroz, Domingos Barretos, Izabel Nascimento de Souza e Hudson Cardin, foram encaminhados para os hospitais da região. Izabel, que ficou em coma, já está fora perigo, mas perdeu a visão de um olho, devido a um tiro.
Keno era um entre centenas de militantes da Via Campesina, que há mais de um ano tornaram público ao Brasil e ao mundo os crimes ambientais da Syngenta. A tragédia, que tirou a vida de um jovem militante e pai de família, de 34 anos, chocou defensores da Reforma Agrária em todo o mundo, entrou para a ultrajante estatística das execuções sumárias ocorridas em conflito por terra no Brasil.
De acordo com as apurações da Polícia Federal de Cascavel, a NF foi contratada pela Sociedade Rural do Oeste; os seguranças têm antecedentes criminais e a maioria das pessoas contratadas “nem mesmo tem capacitação e autorização para atuar como seguranças particulares, agindo assim na ilegalidade, e inclusive conforme constam de depoimentos e relatos de integrantes do movimento sem-terra, vários deles vêm incorrendo no crime de porte ilegal de arma de fogo”.
Esse não foi o primeiro caso de assassinato de Sem Terra ocorrido no Paraná, um dos estados com maior índice de violência contra trabalhadores rurais Sem Terra. Em 2006 foram registrados 76 casos de conflito por terra no Paraná. Entre 1994 e 2002 ocorreram 16 assassinatos de trabalhadores rurais Sem Terra; 31 trabalhadores foram vítimas de atentados; 47 foram ameaçados de morte; sete foram vítimas de tortura e 324 ficaram feridos. Não houve punição dos mandantes ou executores dos crimes.
O próprio Keno e outros dois integrantes do MST, Celso Ribeiro Barbosa e Célia Lourenço, já haviam sido ameaçados de morte, como consta em Boletim de Ocorrência registrado no dia 28 de março. Por várias vezes, seguranças da Syngenta entraram no Assentamento Olga Benário, que fica ao lado da fazenda de transgênicos da Syngenta, atirando para intimidar as famílias que ali moram.
Na região Noroeste, existe a União Democrática Ruralista (UDR), presente também em outras regiões do país; na região Centro-Oeste foi criado o Primeiro Comando Rural (PCR); na região Oeste é a Sociedade Rural do Oeste (SRO), liderada pelo latifundiário Alessandro Meneghel, o mesmo que, em abril, criou o Movimento dos Produtores Rurais (MPR). Os objetivos são: formar grupos paramilitares para assassinar camponeses e desmobilizar a luta dos movimentos sociais.
O governador do Paraná, Roberto Requião, comparou a ação das milícias contratadas pelos fazendeiros com o filme Tropa de Elite. “Fui informado pela Polícia Civil que um manifestante foi executado. Ele foi colocado de joelhos e executado com um tiro na nuca. Isso nos remete à violência de milícias como a apresentada no filme Tropa de Elite. Essas empresas de capital estrangeiro acham que podem vir para o Brasil e fazer o que quiserem, mas aqui no Paraná, não”, afirmou. O MST pede rigorosa investigação, punição dos culpados e da responsabilização da multinacional Syngenta.

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