quarta-feira, 11 de abril de 2018

Sobre Lula, muletas e truculência...



Lula na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, dia 5.abr.2018. Foto Norian Segatto

Davi Macedo, jornalista do Sindicato dos Petroleiros do PR-SC, mesmo sob restrição médica, foi à Superintendência da PF em Curitiba para acompanhar o ato da prisão de Lula. Aqui ele conta, de maneira direta, sua dupla dor: uma fratura no pé esquerdo e a dor de ver o mais popular líder do país preso injustamente. 




Davi Macedo, especial para Sociedade, Política e Cultura.


Fratura e nova fratura no pé esquerdo. Cirurgia para implante de parafuso que perfura praticamente todo o 5º metatarso (sim, igualzinho ao Neymar, argh!). Essa é síntese da minha dura realidade nos últimos meses. Entre sexta-feira e sábado, 6 e 7 de abril, mal consegui pregar os olhos. Não por causa de dor, essa fase eu quase superei, mas porque sabia que vivia um momento bastante triste, porém histórico.

Quem faz jornalismo com paixão sabe que quando a locomotiva da história passa apitando, desenfreada, é impossível permanecer inerte. Ainda estava meio zonzo de sono quando Luiz Inácio Lula da Silva iniciava o que possivelmente fora o mais importante de seus discursos. O fez no local aonde começou a aparecer para o mundo, a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista. Foi uma verdadeira aula sobre a grandiosidade que atingiu aos seus 72 anos.

Apequenou seus inimigos e se apresentou não como um humano prestes a se entregar ao cárcere, mas como uma ideia viva, que não se pode prender e que ecoa através dos milhões de pequenos Lulas Brasil afora. Discurso encerrado, a inquietude tomou conta de mim. Estava (e estou) com limitações de movimentos por conta da cirurgia, que acabara de completar um mês. Às favas com as orientações médicas, precisava ir até a Superintendência da Polícia Federal do Paraná para acompanhar o acampamento que os movimentos sociais pró-Lula começavam a instalar.

Pedi carona à minha companheira e cheguei por lá perto das 14 horas. Ela não ficou porque tinha uma jornada de três aniversários de criança que nosso amado filho, o Théo, fora convidado. No alto dos seus quatro anos, não falava de outra coisa a semana toda e estava ansioso pelo sábado. A tristeza coletiva pela prisão de Lula pouco a pouco se transformava em confiança e alegria de estar lutando por uma causa justa e honrosa. Feitas as primeiras entrevistas e matéria publicada, passei a aproveitar a atmosfera do local. Batuque, palavras de ordem e canções de violão tornavam o ostensivo cerco policial irrelevante. Barraquinhas de comida e vendedores de bebidas deram um toque de feirinha noturna ao acampamento.

Um olho no batuque e outro na internet para acompanhar as notícias que vinham de São Paulo sobre o deslocamento de Lula. Por volta das 21h30 percebi que tinha exagerado e o pé incomodava. Começou latejando e depois parecia que o parafuso aquecia dentro do osso. Quando chegou a notícia de que o presidente mais popular e querido que este país já teve chegaria de helicóptero e nem chegaríamos a vê-lo, decidi ir para casa. Fui com o coração tranquilo, sabia que os companheiros que lá ficaram iam resistir e continuar a luta contra a injustiça cometida contra Lula. No caminho de volta para casa peço para o motorista ligar o rádio e ouço explosões, tiros e gritos. A Polícia Federal avançara contra o movimento. Crianças, pais e mães de família, trabalhadores e trabalhadoras, jovens de todas as tribos. Foi contra esse público que jogaram bombas de gás lacrimogêneo e atiraram balas de borracha pelo simples fato de romperem com o senso comum emburrecido e apoiarem a Ideia Lula.

Uma mistura de sentimento de tristeza e impotência veio à tona. Nas ruas estreitas e apoiado em muletas, certamente seria um alvo fácil para a truculência da PF. No dia seguinte, lá estava eu novamente...

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