Lula na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, dia 5.abr.2018. Foto Norian Segatto |
Davi Macedo, jornalista do Sindicato dos Petroleiros do PR-SC, mesmo sob restrição médica, foi à Superintendência da PF em Curitiba para acompanhar o ato da prisão de Lula. Aqui ele conta, de maneira direta, sua dupla dor: uma fratura no pé esquerdo e a dor de ver o mais popular líder do país preso injustamente.
Davi Macedo, especial para Sociedade, Política e Cultura.
Fratura e nova fratura no pé esquerdo. Cirurgia
para implante de parafuso que perfura praticamente todo o 5º metatarso (sim,
igualzinho ao Neymar, argh!). Essa é síntese da minha dura realidade nos
últimos meses. Entre sexta-feira e sábado, 6 e 7 de abril, mal consegui pregar
os olhos. Não por causa de dor, essa fase eu quase superei, mas porque sabia
que vivia um momento bastante triste, porém histórico.
Quem faz jornalismo com paixão sabe que quando a
locomotiva da história passa apitando, desenfreada, é impossível permanecer
inerte. Ainda estava meio zonzo de sono quando Luiz Inácio Lula da Silva
iniciava o que possivelmente fora o mais importante de seus discursos. O fez no
local aonde começou a aparecer para o mundo, a sede do Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC Paulista. Foi uma verdadeira aula sobre a grandiosidade que
atingiu aos seus 72 anos.
Apequenou seus inimigos e se apresentou não como um
humano prestes a se entregar ao cárcere, mas como uma ideia viva, que não se
pode prender e que ecoa através dos milhões de pequenos Lulas Brasil afora.
Discurso encerrado, a inquietude tomou conta de mim. Estava (e estou) com
limitações de movimentos por conta da cirurgia, que acabara de completar um
mês. Às favas com as orientações médicas, precisava ir até a Superintendência
da Polícia Federal do Paraná para acompanhar o acampamento que os movimentos
sociais pró-Lula começavam a instalar.
Pedi carona à minha companheira e cheguei por lá
perto das 14 horas. Ela não ficou porque tinha uma jornada de três aniversários
de criança que nosso amado filho, o Théo, fora convidado. No alto dos seus
quatro anos, não falava de outra coisa a semana toda e estava ansioso pelo
sábado. A tristeza coletiva pela prisão de Lula pouco a pouco se transformava
em confiança e alegria de estar lutando por uma causa justa e honrosa. Feitas
as primeiras entrevistas e matéria publicada, passei a aproveitar a atmosfera
do local. Batuque, palavras de ordem e canções de violão tornavam o ostensivo
cerco policial irrelevante. Barraquinhas de comida e vendedores de bebidas
deram um toque de feirinha noturna ao acampamento.
Um olho no batuque e outro na internet para
acompanhar as notícias que vinham de São Paulo sobre o deslocamento de Lula.
Por volta das 21h30 percebi que tinha exagerado e o pé incomodava. Começou
latejando e depois parecia que o parafuso aquecia dentro do osso. Quando chegou
a notícia de que o presidente mais popular e querido que este país já teve
chegaria de helicóptero e nem chegaríamos a vê-lo, decidi ir para casa. Fui com
o coração tranquilo, sabia que os companheiros que lá ficaram iam resistir e
continuar a luta contra a injustiça cometida contra Lula. No caminho de volta
para casa peço para o motorista ligar o rádio e ouço explosões, tiros e gritos.
A Polícia Federal avançara contra o movimento. Crianças, pais e mães de
família, trabalhadores e trabalhadoras, jovens de todas as tribos. Foi contra
esse público que jogaram bombas de gás lacrimogêneo e atiraram balas de
borracha pelo simples fato de romperem com o senso comum emburrecido e apoiarem
a Ideia Lula.
Uma mistura de sentimento de tristeza e impotência
veio à tona. Nas ruas estreitas e apoiado em muletas, certamente seria um alvo
fácil para a truculência da PF. No dia seguinte, lá estava eu novamente...
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