quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Notícia falsa e interesses verdadeiros


“Fake News” (notícias falsas) é uma expressão nova, que ganhou popularidade a partir da campanha presidencial estadunidense, que elegeu Fake Trump. Contra essa corrente, que dissemina nas redes sociais qualquer informação sem comprovação existe a tendência de se procurar a “mídia séria” para se saber a verdade. Será?
De fato, a chamada mídia tradicional tem, ou deveria ter, o compromisso de checar informações antes de publicá-la e procurar dar a versão mais isenta possível. Coitado de quem acredita que isso ocorre no dia a dia das redações.
Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, império de comunicação que reinou por quase 60 anos no Brasil, descaradamente inventava notícias para atacar seus oponentes. Com os Marinho, da Rede Globo, não é diferente. É notório o caso de um famoso jornal paulistano, que já não existe, cujo diretor de redação telefonava – geralmente em estado já alterado - a altas horas para a redação para ditar a manchete do dia seguinte, pouco interessando se ela condizia com a verdade da matéria. Nas eleições de 1982, circulavam fotos de uma mansão no Morumbi atribuída a Lula, então candidato a governador de São Paulo. Em 1989, na eleição presidencial, diversos veículos noticiaram que o PT havia sequestrado o empresário Abílio Diniz. Não faltam exemplos de quão “criteriosa” e “ética” é nossa mídia.
Com a possibilidade de qualquer pessoa ou grupo se tornar um emissor de notícias e a rede fazer o papel de ventilador a espalhar por quatro cantos do planeta, a primazia da mentira saiu dos grandes veículos de comunicação e passou a ser prática cotidiana.

General de araque, perigo verdadeiro
Uma das mais recentes é um áudio que circula por grupo de whatsapp, em que um general Aureliano defende a intervenção militar, diz que todo o Congresso é corrupto e que altas patentes do exército já se mobilizam para concretizar o golpe militar. Mesmo tendo quase certeza de se tratar de mais um fake, consultei a assessoria de imprensa do Exército, que informou não haver nenhum general Aureliano em seus quadros. Se ele é um oficial reformado não cabe à corporação ajuizar suas opiniões, mas nem nos quadros de aposentados consta o tal general, informou a assessoria ao blog.
Em política existe o chamado “balão de ensaio” (outro termo para o atual “fake”), ou seja, lança-se uma notícia para detectar a reação do público ou de setores interessados. Por exemplo: o animador de plateia Luciano Huck é um forte candidato a presidência... vamos ver se cola e qual é a reação dos empresários, dos políticos tradicionais etc. Se não decolar, volta-se atrás e vida que segue...
O mesmo raciocínio vale para o áudio do dito general. Após a divulgação várias manifestações de apoio ao golpe surgiram como forma “espontânea” da população. É uma maneira singular de ir criando um perigoso caldo de cultura, mas é assim que o ovo da serpente se choca, bem embaixo de nossos incautos narizes.    

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