domingo, 2 de outubro de 2016

O pendular voto paulistano




Ainda é cedo para analisar em toda a sua extensão a vitória de João Dória (PSDB) à prefeitura de São Paulo, mas alguns dados são relevantes para a reflexão do significado desta eleição.

Tradicionalmente, o voto paulistano é pendular. Mário Covas, prefeito em 1993, não elegeu sucessor. Fernando Henrique, que ainda se travestia de um certo centro democrático, foi derrotado por Jânio Quadros, candidato típico da atrasada direita paulistana (conto uma rápida história ao final deste artigo). Jânio foi sucedido por Luiza Erundina, então do PT. Na época não havia eleição em dois turnos e a campanha de Erundina "virou" nos últimos dez dias, derrotando o favorito Paulo Maluf. A administração de Erundina não fez sucessor e entregou a cidade para Maluf, que fez uma das mais privatistas gestões que a cidade já teve. Quem tiver interesse em conhecer mais sobre a administração Maluf sugiro ler Por trás da máscara, livro do qual sou coautor. 


Maluf (atual PP) elegeu Celso Pitta, que foi sucedido por Marta Suplicy (então PT), que deu lugar a José Serra (PSDB), que, é claro, não completou o mandato e entregou a cidade para Gilberto Kassab. Fernando Haddad fez o PT retornar pela terceira vez à prefeitura da maior cidade do país e agora, novamente, o pêndulo pende para a direita, co  a vitória tucana.

É nítido que as novas regras de financiamento de campanha, que afugentaram recursos, favoreceram as campanhas mais ricas, no caso de São Paulo, justamente a do milionário João Dória Jr. Sua campanha gastou oficialmente cerca de R$ 14 milhões. Foi o candidato com maior tempo na mídia. 

A campanha de Fernando Haddad pagou o custo do desgaste do petismo, além de problemas inerentes de uma complexa administração como a de São Paulo. No entanto, à medida que sua candidatura passou a crescer, parte do voto antipetista que se distribuía por três candidaturas (Dória, Russomano e Marta), se afunilou em uma opção única, no candidato com maior exposição, com mais recursos financeiros e com a sigla (PSDB). que representa o principal adversário do PT. Mais uma vez, a campanha em São Paulo foi marcada pelo cenário político nacional e pelo embate PT x PSDB. 


Cidadãos ou consumidores 
A cidade fez a escolha, mostrando sua tendência pendular, porém, cada vez mais, com forte tendência conservadora. Em vários momentos da campanha, Dória tratou o cidadão por "consumidor", ou seja, a visão empresarial do agora prefeito eleito é que a administração pública tem que manter uma relação privada de mercado com seus "clientes", a população. 

A se ver pelo cenário estadual, a gestão tucana terá a animada simpatia dos grandes meios de comunicação. Tempos bicudos aguardam a maior cidade do país.


Curiosidade
Na eleição que elegeu Jânio Quadros, fui fazer boca de urna para Eduardo Suplicy na Vila Maria, tradicional reduto católico janista. Suplicy estava em terceiro lugar, muito afastado dos dois primeiros colocados, Jânio e FHC. Pelas ruas da Vila Maria se espalhavam um panfleto apócrifo dizendo que Fernando Henrique era ateu e pedindo voto em Suplicy. O panfleto havia sido confeccionado pela campanha de Jânio Quadros.   

Um comentário:

Anônimo disse...

Excepcional estratégia de marketing político. O velho Jânio era mestre nisso. Infelizmente não existem mais políticos como ele.Uma pena...