José Sérgio Gabrielli: foto Norian Segatto |
Na manhã desta
sexta-feira (13.mai.16), o ex-presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli,
concedeu uma entrevista por telefone para o blog. Na conversa, Gabrielli disse
que a indicação de José Serra para o Ministério das Relações Exteriores pode
acelerar a aprovação do projeto de autoria do senador, que retira da Petrobrás
a exclusividade da operação da camada do pré-sal. Destaca, também, que
considera equivocado acabar com a lei de partilha. Confira, a seguir, alguns trechos.
Senhor
Gabrielli, em sua opinião qual é o risco que pode ter para as empresas
públicas, e em particular para a Petrobrás, a indicação do senador José Serra
para o Ministério das Relações Exteriores?
José Gabrielli – Serra é
o autor do projeto que retira da Petrobrás a exclusividade da operação do
pré-sal, esse projeto já passou no Senado. Acredito que com a ida dele para o
Ministério das Relações Exteriores haverá uma maior pressão para que o projeto
seja aprovado e, inclusive, acabar com a lei de partilha.
Há
outro projeto nesse sentido em discussão no Congresso.
José Gabrielli – Sim, corremos
o risco de uma regressão, de voltar ao modelo de 1998 quando da quebra do
monopólio estatal do petróleo. Naquela época, em 1998, tínhamos uma realidade
diferente, o país tinha de buscar investimentos para encontrar o petróleo; depois
da descoberta do pré-sal isso mudou completamente. Temos uma província
extremamente prolífica e um custo exploratório, neste momento, relativamente
baixo. Portanto, usar o mesmo modelo de contrato do período anterior é entregar
para as operadoras estrangeiras uma riqueza nacional deixando migalhas para o
povo brasileiro.
O
senhor tem participado de algumas reuniões no Congresso, qual é o sentimento
que se percebe das conversas com os parlamentares? Existe possibilidade de
resistência no âmbito legislativo em relação a esses projetos?
José
Gabrielli – Possibilidade tem, mas esse é um
Congresso muito conservador, e a decisão de afastar a presidente Dilma sem que
ela tenha cometido crime, enfraqueceu o bloco parlamentar que defende a
manutenção dessas riquezas com o povo brasileiro.
Ontem (12.maio.16), a Petrobrás
divulgou o resultado do primeiro trimestre, com prejuízo de 1,2 bilhão. Qual é
a sua avaliação em relação a esse resultado?
José
Gabrielli – O resultado é a combinação de vários fatores.
O problema da Petrobrás não é de caixa, esse prejuízo é resultado da
desvalorização cambial, da queda da atividade econômica, que reduziu o consumo
mundial e da redução do preço do barril de petróleo no mercado internacional. Há ainda, um fator, digamos,
cíclico. Quando a Petrobrás precisa fazer paradas para manutenção por 40, 50
dias, isso impacta a produção, há uma queda na produção que leva algum tempo para
ser regularizada.
Em relação à política de
desinvestimento, acabaram de ser vendidos ativos internacionais, na Argentina e
no Chile, qual é o limite dessa política?
José
Gabrielli – Eu acho que o mercado está sobre ofertado
de ativos no mundo todo. A Petrobrás tinha uma meta de venda de algo em torno
de R$ 15 bilhões, até agora só vendeu dois, então, acho que não é o melhor
momento para se realizar essa política.
Como
está o seu processo em relação à compra da refinaria de Pasadena?
José
Gabrielli – Não avançou em nada, estou com meus bens
bloqueados e o processo está parado no TCU (Tribunal de Contas da União). O
processo foi originado por conta de relatórios técnicos, que foram contestados; na época, a refinaria foi comprada por um preço abaixo do valor de mercado. É
bom ressaltar que a refinaria continua operando e com lucro, o que existe é uma
discussão técnica, que está parada.
Entenda o caso de Pasadena
Em janeiro de 2015 fiz
uma longa entrevista com Gabrielli, que foi publicada no jornal Petroleir@s, do
Sindicato Unificado dos Petroleiros de São Paulo. Na ocasião, o ex-presidente
da Petrobrás detalhou a operação. Reproduzo, abaixo, a parte da entrevista em
que ele explica a aquisição da refinaria nos Estados Unidos.
Quem é leigo e
lê as notícias sobre a Refinaria de Pasadena fica sem saber o que pensar de
tantas informações desencontradas. Qual é o seu ponto de vista sobre a compra
da refinaria, foi um mau negócio para a Petrobrás?
José Gabrielli - Primeiro é preciso saber porque a Petrobrás comprou a
refinaria nos Estados Unidos. Essa estratégia foi definida em 1997, naquele ano
havia a perspectiva de não crescer o consumo de gasolina e diesel no país, de
estagnação do consumo de derivados. Também era previsão, em 1997, que a
produção de petróleo Marlim ia crescer. Se vai crescer a produção de petróleo e
não vai crescer o consumo, não tem sentido crescer a refinaria no Brasil e sim
buscar refino lá fora. Essa era a estratégia implementada pela Petrobrás até
2005. Em 2005, depois de ver várias refinarias, encontramos a de Pasadena, que
estava relativamente barata, localizada no centro do refino norte americano, no
Texas, que possui capacidade de refino de três milhões de barris, mais do que o
Brasil todo refina; estava localizado na boca de um oleoduto de extraordinária
capacidade para levar petróleo do Golfo do México a Nova Iorque, ou seja estava
em um lugar logisticamente muito adequado.
A refinaria foi comprada por 7.400 dólares o barril, incluindo a
refinaria. Como a capacidade de produção era de 100 mil barris, a Petrobrás
comprou 50% por 380 milhões de dólares. Em 2006 ocorreram no mundo 11 grandes
compras de refinarias, cinco delas nos Estados Unidos, a refinaria mais barata
comprada nesse período foi por 3.400 dólares por barril, a mais cara, 19.500
dólares por barril, a média, 9.300 dólares, ou seja, a Petrobrás comprou abaixo
da média. Por aí não pode dizer que teve prejuízo.
Uma segunda lógica. Quanto se esperava ganhar com a refinaria? No
Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica, a Petrobrás projetava uma margem
conservadora de 2006 até 2014. Se comparar essa projeção de margem operacional,
com o que efetivamente ocorreu, a refinaria gerou 760 milhões de dólares a mais
do que a Petrobrás esperava. De onde vem o prejuízo então?
O prejuízo vem de um parecer feito pelo ministro José Jorge, do TCU,
que foi ministro de Minas e Energia de Fernando Henrique Cardoso, foi
presidente do PFL, foi candidato a vice-presidente de Alckmin [Geraldo]. Ele
desconsiderou o parecer dos técnicos do TCU, que por três meses ficaram dentro
da Petrobrás e atestaram que não teve erro no cálculo do preço da refinaria.
Ele desconsiderou uma segunda auditoria, que também chegou à conclusão que não
teve problemas, pegou um assessor de sua confiança que em 30 dias, sem ter ido
uma vez à Petrobrás, cometeu vários erros de interpretação e erros técnicos.
O principal problema é ele faz um conceito de prejuízo pelo que foi
pago pela refinaria e abate de uma das 27 planilhas feita por uma consultoria
contratada pela Petrobrás. Por esse cálculo a refinaria deveria custar 1.860
dólares por barril, não existia isso em lugar algum, a mais barata foi 3.400.
Consequentemente, o conceito de prejuízo que está nesse parecer é politicamente
motivado, não é tecnicamente justificado.
Outro conceito de prejuízo é o olhando para frente. Em dezembro de
2012, a Petrobrás levantou o que foi investido na refinaria, calculou o que ela
poderia dar de margem no futuro, com as taxas de juros de 2012, projetou no
futuro e identificou um prejuízo de 530 milhões de reais. Esse prejuízo foi
lançado no resultado da Petrobrás, não tem nada a ver com o preço de compra.
Em 2013 e 2014 aconteceu um fenômeno muito importante nos Estados
Unidos, a produção do gás de xisto e o dateoil, que é o petróleo de
reservatórios fechados, geraram uma enorme disponibilidade de petróleo leve,
barato e disponível, particularmente no Texas, através do campo de Eagle 4.
Isso permite que a refinaria de Pasadena seja altamente lucrativa. Então, nos
últimos dois anos a refinaria foi lucrativa. Onde está o prejuízo? É
contabilidade política e não técnica.
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