segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Valeu, Scliar!

Faleceu ontem (27/2/2011) o escritor Moacyr Scliar, um dos mais respeitados e instigantes autores brasileiros, ganhador de três prêmios Jabuti (2009, 1993 e 1988) e do prêmio Casa de Las Américas em 1989.
Tive uma rápida conviência com Scliar quando lancei o livro Corpos - contos eróticos. A proposta da publicação era fazer um apanhado do erotismo a partir da visão masculina e procurei escolher escritores de várias "vertentes".
Não conhecia Scliar pessoalmente, através de amigos consegui seu telefone em Porto Alegre. A Limiar estava apenas engatinhando, tinha publicado dois ou três títulos, era absolutamente desconhecida no mercado editorial. Mesmo assim liguei para o Scliar, expliquei o projeto do livro e perguntei se ele aceitaria participar da coletânea.
Com uma risada, que não era de ironia nem descaso, ele se surpreendeu ao ser convidado para uma coleção de contos eróticos, e me perguntou qual texto eu desejaria publicar. "Paixões orais", respondi.
- Pode publicar, como você costuma fazer com os direitos autorais? - perguntou
- Bem, somos uma editora pequena, a proposta é pagar uma porcentagem sobre as vendas.
- Ih! Isso é complicado, tem que ficar fazendo relatório sempre, eu prefiro que você proponha um valor e fique com o texto para publicar quantos exemplares quiser.
- E quanto seria este valor? - perguntei, já imaginando que não teria como pagar.
- Propõe você.
- Quinhentos? - quase gaguejei diante da miséria da oferta.
- É seu, pode publicar, me encaminhe um exemplar quando ficar pronto.

E, assim, por telefone, sem nunca ter me visto, fechamos sua participação no livro. O encontrei ao vivo na Bienal do Rio e de São Paulo em outras ocasiões e ele sempre foi muito solícito, brincando - equivocadamente - que eu era o editor mais jovem com quem ele já trabalhara.

Essa pequena mostra do generoso ser humano que era o doutor Moacyr Scliar explica, em parte, o grande e sensível escritor que o Brasil acaba de perder.

2 comentários:

Susanices disse...

Há dez anos atrás você tinha, no máximo, trinta e cinco anos.
Bonito - e divertido - o texto em homenagem a um de seus (ótimos)autores.
Foi uma pena a gente ficar ele.

Blog Editora Limiar disse...

há dez anos eu já tinha um pouco mais de 35.,...rs