sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Efeitos colaterais de uma campanha suja

A campanha presidencial do candidato derrotado José Serra incentivou – direta ou passivamente – a exacerbação de preconceitos de classe, raça e opção religiosa. Por falta de propostas, a campanha apostou na despolitização do debate, e tentou (em certo momento conseguiu) colocar a baixaria como tema principal da campanha.

Pela internet inundaram manifestações racistas contra Lula e Dilma, com montagens grosseiras de fotos da candidata; nos clubes chiques das capitais, o assunto era evitar a continuidade no poder dessa “gente mal nascida, pobre”, independentemente do fato de as classes mais abastadas nunca terem tido vida tão boa neste país.

A imprensa ajudou, e muito, a fomentar esse acirramento; deu espaço privilegiado para discussão sobre temas menores, como o aborto (o Diário de São Paulo chegou a publicar uma capa inteira com o título “aborto, sim ou não”, como se isso fosse o mais importante em uma campanha presidencial), após a eleição fizeram “infográficos” mostrando a “divisão” do país – o Norte e Nordeste com Dilma, o Sul com Serra – entre outros absurdos político editoriais.

Se os “formadores de opinião” agem assim e quem postulou o cargo mais importante do país se mostra indiferente a essas baixarias, é natural se esperar manifestações como as ocorridas durante a semana pela estudante de Direito Mayara Petruso, que postou no twitter a mensagem “Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!". Outros usuários seguiram a deixa da estudante e postaram agressões como "Tinham que separar o Nordeste e os
bolsas vadio do Brasil" e "Construindo câmara de gás no Nordeste matando geral".
No dia 3 de novembro, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) entrou com representação criminal contra a estudante, no dia seguinte o jornal Folha de S.Paulo publicou editorial condenando os ataques, mas em momento algum assumindo a parte de responsabilidade que cabe à imprensa.

Na campanha para a Prefeitura de São Paulo, a então candidata Marta Suplicy veiculou uma peça no horário eleitoral que questionava a sexualidade de seu adversário Gilberto Kassab. O material sofreu duros ataques por parte da mídia, muitos militantes petistas criticaram tal “marketing” e Marta acabou perdendo votos e ganhando mais uma gafe à sua longa coleção.
A campanha de Serra fez pior, em escala muito maior, e a imprensa foi conivente. O resultado colateral é esse: o ovo da serpente.

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