

Em poucos momentos da história da esquerda brasileira, a frase “união dos trabalhadores do campo e da cidade” se fez tão real. As lágrimas felizes de Silvaney eram compartilhadas pelos mais de 140 delegados, e nem o frio de 7 graus era capaz de esfriar a alegria de homens, mulheres e crianças que compartilhavam aquele momento único. Crianças, sim, dezenas delas, os “sem-terrinha”, em uniformes escolares recém adquiridos por conta da parceria com a FUP, que entregavam para cada participante um pequeno vaso com a terra daquela região que já foi palco de exploração, violência e morte e hoje simboliza a esperança de algumas milhares de pessoas e o sonho de milhões de brasileiros.
Para o coordenador da FUP e diretor do Sindipetro Unificado SP, João Antonio de Moraes, além do aspecto simbólico da plenária ser realizada em um assentamento, existe a questão política: “Mais do que o simbolismo e a solidariedade de classe, essa Plenária inaugura a possibilidade concreta de uma aliança dos movimentos para o fortalecimento das lutas que ambos terão pela frente”.
Construção de uma nova utopia
Organizar um encontro dessa grandeza, com mais de 140 delegados vindos de todas as regiões do país requer experiência, capacidade organizativa e competência. Hotéis e centros de convenção se especializaram nesse tipo de evento e cobram os tufos para realizá-los.
Contrariando a lógica do mercado, a FUP teve ousadia de investir os recursos que iriam para um estabelecimento comercial em um assentamento dos trabalhadores sem terra. Na Escola Latino Americana de Agroecologia, localizada no assentamento, tais recursos contribuíram para a construção de alojamentos de alvenaria, reforma dos banheiros, do refeitório, compra de uniformes para as crianças da escola entre outras melhorias, que ficarão como marco da concepção classista de sindicalismo.
Como homenagem, uma equipe de artesãos que moram no assentamento erigiu um mosaico para comemorar a 1ª Plenafup.
A voz embargada de Silvaney, as lágrimas de Moraes e tantos outros eram a prova simbólica que um novo marco na história do sindicalismo brasileiro começava a ser construído. As paredes de alvenaria levantadas com o apoio da FUP representam muito mais do que tijolo e cimento. Representam a argamassa da consciência de classe.
O filósofo chinês Lao Tsé disse que para adquirir conhecimento basta acrescentar uma coisa por dia; para adquirir sabedoria basta se desfazer de uma coisa por dia. Ao conviver mais de perto com os sem terra, os petroleiros adquiriram diversos conhecimentos; ao optar por "eliminar" salões com ar-condicionado, ruas pavimentadas, asfalto, poluição, adquiriram sabedoria, que acompanhará por toda a vida como a pele tatuada pela esperança de construção de um país mais justo e igualitário.
Mosaico registra unidade

À noite, com o trabalho concluído, coube a um "sem terrinha" inaugurar a obra, recepcionar e agradecer a parceria com os petroleiros.
Oficinas e trabalhos em grupo
Uma característica marcante da PlenaFUP foi a qualidade dos debates em grupo, das oficinas temáticas e das apresentações. Foram montados quatro grupos de trabalho que permaneceram durante todo o sabádo, até o começo da madrugada do domingo analisando temas que irão compor a pauta de reivindicação da categoria no segundo semestre.
Diferentemente dos congressos anteriores, esta primeira PlenaFUP debateu em plenária, com todos os delegados e delegadas presentes, temas de conjuntura nacional e internacional que estão na ordem do dia dos movimentos sindicais e sociais. Questões como soberania popular e energética na América Latina, uma nova Lei para o setor petróleo no Brasil, democratização dos meios de comunicação, direito de greve e saúde e segurança do trabalhador, abriram os debates dos petroleiros e camponeses que lotaram o auditório improvisado sob uma grande lona montada no assentamento do MST.
No domingo, os delegados(as) voltaram a se reunir em plenária para aprovar ou rejeitar as propostas vindas dos debates em grupo.
Participação feminina

Para marcar ainda mais sua presença, no último dia da Plenafup, as companheiras realizaram uma apresentação política, que terminou ao som de "Pagu", música de Rita Lee ("nem toda a feiticeira é corcunda / nem toda brasileira é bunda / meu peito não é de silicone / sou mais macho que muito homem...). É isso aí, os machistas de plantão estão com os dias contados na mão dessa mulherada de luta.
Planos de luta
A I PlenaFUP aprovou dois planos de luta que serão implementados simultaneamente: um para a campanha reivindicatória e outro para dar continuidade à campanha em defesa de uma nova lei do petróleo:
Campanha reivindicatória
- Denúncia das práticas antisindicais da Petrobrás à OIT, ICEM e UIS/FSM e outras ações políticas para reverter as punições contra os trabalhadores;
- Calendário de mobilizações nacionais pelo extraturno;
- Realização de uma mobilização nacional contra as punições praticadas pela Petrobrás, na data em que a FUP e os sindicatos apresentarem à empresa a pauta de reivindicações dos trabalhadores. Terá como eixo “Mexeu com meu companheiro, mexeu comigo”;
- Seminários regionais de qualificação de greve;
- Campanha por uma nova Lei do petróleo.
Campanha por uma nova lei do petróleo
- Ato nacional em Brasília no dia 16 de julho, somando-se à passeata dos estudantes durante o Congresso Nacional da UNE;
- Integração à jornada nacional de luta das centrais sindicais pelas 40 horas semanais e em defesa da Convenção 158 da OIT (que garante proteção aos trabalhadores contra as demissões imotivadas);
- Ato nacional em Brasília no dia 19 de agosto, somando-se à mobilização da Via Campesina, MST e demais movimentos sociais;
- Integração à jornada de luta latino-americana e caribenha em defesa da soberania dos povos sobre os recursos energéticos e a água.
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