Em João do Rio, 45, Mouzar conta as aventuras de um grupo de amigos que dividem uma mesma casa - na rua e número que dá título ao livro – na Vila Madalena, em São Paulo, no ocaso da ditadura. O alter-ego Valadares, bom bebedor de cachaça, jornalista de esquerda, que tinha entre suas atividades visitar presos políticos, monta uma república no coração da Vila Madalena. A partir desse momento, a casa passa a ser a narradora dos eventos – e quem já passou perto de uma república sabe o que estou dizendo; acrescente-se a isso, a porralouquice dos anos 80, e vários amigos de diferentes tendências políticas. Só havia um ponto de concordância: as militantes da libelu eram umas gostosas.
Quem viveu a época vai perceber as referências e se envolver no universo que agrupa política, sexo, cachaça, futebol, confusões e pequenos dramas cotidianos. Para formar esse painel, Mouzar lança mão de um recurso estilístico que fornece agilidade ao texto: trabalha com pequenos fragmentos da realidade, deixando ao leitor a tarefa de uni-los em uma única história. Como bilhetes em imãs de geladeiras de uma república, os “fragmentos” que a casa narra remetem aos primórdios da Vila Madalena, à história recente do país, e pequenas histórias pessoais recheadas de situações burlescas ao melhor estilo dos “causos” de Mouzar.
Durante o lançamento, no bar Canto Madalena, na Vila, óbvio, de quando em quando uma pessoa se aproximava e dizia, quase em tom de confissão: eu sou um dos personagens do livro!
- Ele falou muito mal de você no livro -, respondia, rindo, sem saber quem era meu interlocutor. Invariavelmente, aos risos, o personagem se lembrava de mais um “causo”, de outra situação interessante que havia ocorrido na época e, assim, a ficção ganhava vida no relato emocionado dos protagonistas.
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