sábado, 9 de fevereiro de 2008

Os muitos mistérios da morte de João Goulart


A notícia – um possível complô para o assassinato do ex-presidente João Goular, o Jango, em 1976 – não é nova, mas ganhou força nos últimos dias a partir de vários fatos que se entrecruzam no emaranhado das cumplicidades que a história tem com a verdade da vida.
1º Fato – Em dezembro de 2007, a justiça italiana pediu a prisão de 140 pessoas envolvidas na Operação Condor, um mega-acordo de cooperação militar entre as ditaduras do Brasil, Uruguai, Paraguai, da Argentina, Bolívia, do Chile e do Peru para reprimir e perseguir políticos desses países que viviam exilados. Jango foi exilado no Uruguai e Argentina (aonde veio a falecer). Segundo depoimento do ex-deputado federal Neiva Moreira, hoje com 90 anos, o nome de Jango constava da lista da Operação Condor.
A decisão da justiça italiana reabriu no Brasil o debate sobre os crimes da ditadura militar. Dos 140 processados, 11 são brasileiros.

2º Fato – Recentemente, a Folha de S.Paulo entrevistou Mário Neira Barreira, uruguaio que se encontra preso em Porto Alegre, diz ter sido agente do serviço secreto de seu país e participado do assassinato de Jango.
Apesar de Barreira já ter feito declarações semelhantes em outras oportunidades (o jornal gaúcho Zero Hora já havia noticiado a versão em 2000 e o jornalista e escritor Carlos Heitor Cony já entrevistara esse mesmo sujeito para o livro “O beijo da morte”, de 2003), a riqueza de detalhes com que relata o episódio merece, no mínimo, uma séria investigação.

3º Fato – De posse de entrevista gravada com Neira Barreira, o filho de Jango, João Vicente Goulart, entrou com ação na Procuradoria Geral da República pedindo a investigação sobre as denúncias.
João Vicente afirmou que se houver indícios mais claros sobre o suposto assassinato, a família irá autorizar a exumação do cadáver de Jango.

4º Fato – “Coincidentemente”, em apenas nove meses, três líderes que se opunham à ditadura e formaram a chamada Frente Ampla morreram de forma “natural”. O ex-presidente Juscelino Kubitschek morreu em 22 de agosto de 1976, em um acidente de automóvel na via Dutra. Carlos Lacerda morreu em 21 de maio de 1977 e Jango em 6 de dezembro de 1976, de ataque cardíaco. Muitas coincidências.
Segundo Carlos Heitor Cony “levantamos as hipóteses surgidas sobre a morte, em apenas nove meses, dos três líderes que haviam formado a Frente Ampla, tentando dar um basta à ditadura militar instalada em 1964. Foram mortes anunciadas em 1975, num ofício confidencial do coronel Manuel Contreras, chefe do Dina, serviço secreto do Chile, ao general João Figueiredo, então chefe do SNI”.

5º Fato – Imediatamente após a versão do ex-agente uruguaio ganhar novamente o noticiário nacional, representantes da nova direita brasileira, como o “articulista” da revista Veja, Reinaldo Azevedo, correram para tentar desmerecer as acusações. Se a direita medrou é um bom motivo para os setores progressistas investigarem.

Diante de tantas suspeitas, a Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal acatou, no dia 7 de fevereiro, requerimento do senador Cristovam Buarque (PDT-RJ) para haver audiências públicas e ouvir os envolvidos na Operação Condor e no suposto complô para matar João Goulart. Essa é uma história que ainda não foi totalmente contada.

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