Pedro Parente durante cerimônia de posse: Foto: Shana Reis |
Pedro Parente tomou posse nesta quinta-feira (2.jun.2016) no Rio de Janeiro como novo presidente da Petrobrás. Maior companhia do país, a Petrobrás é responsável por cerca de 13% do PIB brasileiro, emprega diretamente mais de 80 mil funcionários, mais de 200 mil terceirizados e é uma das grandes indutoras do desenvolvimento social e econômico do país. Sua importância estratégica para o Brasil é inquestionável.
Em um discurso de nove páginas, Pedro Parente deixou claro que vem com a missão de cumprir a agenda
neoliberal que o PSDB tentou emplacar nos governos FHC, mas que foi impedida
pela determinação dos trabalhadores, pela força da sociedade e pela mudança de
governo.
Agora, voltam à carga nos braços golpistas. Destaquei alguns trechos do discurso de Parente. São bastante reveladores. Leiam a seguir
Sobre o conteúdo nacional
“Que prevaleça pela competência, que lhe permita passar [o
conteúdo nacional] pelo teste ácido da concorrência, e não pela constituição de
reservas de mercado que, ao contrário, só têm apresentado resultados pífios,
especialmente nos prazos de entrega”.
Ou seja, bye, bye política de conteúdo nacional, que ajudou
o país a superar a crise de 2008/2009 e a recuperar importantes setores como o
da construção naval.
Sobre o pré-sal
“A Petrobras e o Brasil não podem se dar ao luxo de esperar
tempo demais. Temos que arregaçar as mangas e levar o pré-sal ao seu potencial
máximo, sem estarmos presos a amarras dogmáticas e com a colaboração das
empresas parceiras”.
“Nesse sentido, a empresa apoia a revisão da lei de
exploração do pré-sal com a substituição da exploração de cada campo,
substituição da obrigação que participe com pelo menos 30% da exploração de
cada campo, pelo direito de preferência com a participação que julgar atender
melhor os seus objetivos. Em nosso ponto de vista, como está, essa lei não
atende nem aos interesses da empresa, nem do país”.
Nada mais claro do que essa declaração. Parente apoia o
projeto de seu padrinho José Serra, de entregar a operação do pré-sal ao
mercado internacional, abrindo mão da soberania nacional energética, o que ele
chama de “amarras dogmáticas”.
Gestões anteriores
“A Sociedade Brasileira e os acionistas têm, hoje, visão
mais clara das verdadeiras causas da situação atual da Petrobras: a euforia e o
triunfalismo do discurso dos anos recentes não servem mais para esconder o
verdadeiro descalabro que vitimou essa companhia”.
Aqui, Parente ataca diretamente o governo Lula, que
descobriu o pré-sal e o de Dilma, que marcou a descoberta como “passaporte para
o futuro”. Ao tentar desconstruir essa visão, PP se alia ao discurso de
empresas estrangeiras que desqualificam a Petrobrás para tomar de assalto seus
recursos.
Sobre a Refinaria de Pasadena
“Uma série de projetos e investimentos se mostrou
irrealista, seja sob o ponto de vista de prazo de conclusão, de seus custos finais
e pelas premissas utilizadas, muitos deles frequentando noticiário com razões
altamente negativas, e não produziram os retornos desejados”.
Parente quer atacar, principalmente, a compra da refinaria
de Pasadena, que esteve na mira da mídia por muitos meses, como um exemplo de
péssimo negócio. O ex-presidente da empresa, José Gabrielli, já explicou por
diversas vezes porque a compra não foi um mau negócio na época. A refinaria atualmente
está em atividade e dando lucro.
Sobre a capitalização
da Petrobrás
“É discussão corrente que para sair dessa grave situação a
União, como principal acionista, deveria promover uma capitalização da empresa.
Não gosto dessa visão por vários motivos”.
“Isso não quer dizer que poderemos dispensar o apoio das
autoridades brasileiras para o nosso plano de recuperação. Pode ser que esse
plano demande alterações legais ou regulamentares, que dependam desse apoio
para o seu pleno sucesso”.
A tradução mais literal dessa frase é simples: mudar o marco
regulatório do pré-sal e atrair investimentos estrangeiros sem a interferência
do Estado, que, afinal, detém, ainda, a maioria das ações da Petrobrás. Vê-se
aqui as digitais de José Serra e seu sonho entreguista.
Sobre a responsabilidade
social
“A minha primeira prioridade é a continuação da recuperação
econômica e financeira da empresa... Isso certamente envolve um cumprimento de
sua função social e as relações com seus empregados e as comunidades onde atua
dentro e fora do Brasil. Mas essa função social, por mais que leve em
consideração o interesse público e as políticas do seu controlador, o Estado
brasileiro, não podem, de forma alguma, se confundir com ele... A busca da sua
função social não é excludente nem se opõe a uma atuação da Petrobras com
responsabilidade econômica e financeira”.
Ao contrapor “responsabilidade financeira”, com “responsabilidade
social”, Parente dá a senha de que a empresa irá rever seus compromissos com a
sociedade. Em vez de se consolidar como indutora do crescimento econômico e
social do Brasil, sob a tutela neoliberal será uma empresa voltada
exclusivamente para o lucro de seus acionistas e, se possível, com a menor
interferência possível do Estado, até a sua completa privatização.
Retorno de
investimentos
“O segundo pilar para o resgate da Petrobras é a adoção da
responsabilidade econômica e financeira em absolutamente todos os planos e
ações da empresa. Pelo bem da empresa, o que, insisto, inclui o atendimento de
sua função social, todos os investimentos e ações adotadas pela companhia devem
ter clara e inconteste relação com a capacidade de gerar o retorno econômico”.
Essa frase só torna ainda mais clara a posição do lucro se sobrepor
à função social da Petrobrás.
Política de
desinvestimento
“É crucial para a reconstrução da Petrobras também continuar
com o seu plano de desinvestimentos da companhia. A empresa precisa fortalecer
o seu caixa e reduzir a sua dívida e os desinvestimentos são fundamentais para
esse objetivo”.
Mantém a política adotada pelo atual Conselho de
Administração, de vender ativos para fazer caixa. Essa é uma política, no
mínimo, equivocada no atual momento, quando área do petróleo está com sobre
oferta de ativos no mundo todo, fazendo com que os preços desses ativos sejam aquém
do poderiam oferecer em outro cenário.
Benção “padinho” Serra
“Também saúdo o ministro das Relações Exteriores, cuja rede
de colaboradores mantemos frequentes contatos no exterior”.
Mesmo sem estar presente na cerimônia de posse, José Serra
foi lembrado e homenageado pelo seu apadrinhado. A indicação de Parente para a
Petrobrás partiu do atual ministro das Relações Exteriores.
Diálogo com o mercado
“A lista de desafios no caminho da Petrobras é longa, mas
quero trilhá-la através do diálogo intenso com todo o setor de Energia, Gás,
Óleo e Gás do país. Esse diálogo se inicia pela Agência Nacional do Petróleo,
Gás Natural e Biocombustíveis, a ANP. Pelo Instituto Brasileiro do Petróleo,
IBP, que congrega as empresas desse setor e as lideranças das entidades
representativas do mundo industrial, como a Firjan. Inclui também a Comissão de
Valores Imobiliários e a sua congênere americana, a SEC. Os órgãos ambientais,
tanto o Ibama quanto os estaduais... A todos reitero o meu compromisso com uma
relação franca e transparente”.
Nem uma palavra aqui sobre diálogo com os trabalhadores. Mas
isso vem logo abaixo.
Recado aos
funcionários
“Eu quero dirigir-me agora a todos os meus novos colegas de
trabalho, os mais de 80 mil funcionários da Petrobras. Que mantenham a
dedicação e o empenho pela total recuperação da empresa. Com afinco e trabalho
sério, vamos conseguir trazer de volta essa empresa ao posto que ela merece”.
Ou seja, trabalhem para dar lucro para a empresa.
Segurança
“Teremos especial atenção para a nossa gente, começando pelo
tema da segurança. Temos que nos empenhar para eliminar as situações que podem
terminar com ‘vitimização’ dos nossos colaboradores, próprios ou terceirizados,
não faz a menor diferença, com ou sem afastamento ou, ainda mais grave, com
fatalidades. A segurança tem que ser um valor absoluto”.
O tempo dirá se é apenas uma frase de efeito ou um
compromisso sério. A questão da segurança é um dos principais itens cobrados
pelo movimento sindical.
Diálogo do sim senhor
“A hora é de diálogo e de cooperação para o resgate da nossa
empresa. E nesse sentido, a representação dos nossos empregados por meio das
suas instituições regularmente constituídas, é peça fundamental e é bem-vinda,
desde que imbuída desses elevados propósitos”.
Imbuída desses elevados propósitos??. Ou seja, haverá
diálogo com as representações sindicais se essas assinarem a cartilha
neoliberal de desmonte da empresa. Não há diálogo possível com base nessas
premissas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário