quarta-feira, 24 de setembro de 2008

É preciso criminalizar a Petrobrás pelos acidentes





Cerca de 4 mil trabalhadores da Refinaria de Paulínia (Replan) cruzaram os braços na manhã da quarta-feira, 24, para protestar contra a morte de quatro petroleiros, ocorrida no dia anterior durante uma explosão na estação de tratamento de petróleo de Campo de Furado, no município de São Miguel dos Campos, em Alagoas. Os corpos dos quatro trabalhadores terão de ser identificados pelo exame de DNA, pois foram carbonizados.
Desde as primeiras horas da manhã, os trabalhadores iam chegando à Refinaria e em respeitoso silêncio aguardavam o início do ato. O rosto de cada trabalhador traduzia um misto de indignação com a 16ª morte ocorrida este ano no Sistema Petrobrás e a incerteza de que se ele não seria a próxima vítima. “Todo trabalhador tem o direito de ir ao trabalho pela manhã e saber que irá voltar para casa no fim do dia”, exclamava o companheiro Hamilton, do Sindicato da Construção Civil, entidade que organizou o ato junto com o Sindipetro Unificado-SP.
Petroleiros próprios e terceirizados se postavam lado a lado compartilhando a mesma estranha dor: apesar de os quatro operários vitimados pela política de insegurança da Petrobrás serem completamente anônimos para a massa de trabalhadores ali presente havia uma solidariedade no ar, como se de fato um membro da própria família tivesse falecido. A consciência de classe também trilha caminhos dolorosos. Uns poucos que tentaram furar a paralisação e mostrar para os gerentes como são puxa-sacos, foram recebidos com vaias e indignação: “Dá nojo, dá nojo trabalhar ao lado de pessoas assim”, gritava inconformado um trabalhador terceirizado.

Criminalizar a Petrobrás
Todas as intervenções dos dirigentes sindicais apontaram para a necessidade de uma completa mudança na política de SMS da Petrobrás e na criminalização dos responsáveis pelos acidentes. “Os trabalhadores não podem ser cúmplices dessa política da Petrobrás”, alertou o dirigente da executiva nacional da CUT, o petroleiro Dary Becker.
Antonio Carlos Spis foi enfático ao afirmar que é necessário “colocar na cadeia gerentes e diretores que permitem que tal situação aconteça”, e completou: “Se for preciso vamos pôr na cadeia o próprio presidente da empresa, o departamento jurídico do Unificado está avaliando quais ações podem ser tomadas nesse sentido”.
O coordenador do Unificado, Itamar Sanches, lembrou a cláusula de direito de recusa ao trabalho, expressa no acordo coletivo, mas alertou da necessidade de os trabalhadores se mobilizarem para defender suas próprias vidas. “Hoje estamos fazendo um ato de luto, mas sabemos também fazer atos de luta e temos de nos preparados para deflagrar greve por mais segurança na empresa”
Para finalizar o ato, o coordenador da Regional Campinas, Danilo Silva, pediu um minuto de silêncio em homenagem aos acidentados. “Vamos entrar para trabalhar em silêncio, em respeito a mais essas vítimas, mas também para demonstrar toda nossa indignação”.
O ato terminou por volta das 10h30, quando, em silêncio, os trabalhadores entraram na refinaria, cada um com a esperança de estar vivo ao final do expediente.

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